Surubim e os Pocomã estreia com disco de música popular do sertão misturada a elementos de jazz, pop e world music

 Surubim e os Pocomã estreia com disco de música popular do sertão misturada a elementos de jazz, pop e world music
Disco ao vivo reúne nove músicas autorais que reverenciam as tradições do Norte de Minas e da população que habita a extensão do Rio São Francisco; show de lançamento acontece no dia10/11, no Armazém do Campo, em BH

Da terra quente cortada pelo Rio São Francisco, nasce uma música embebida da folia de reis, do forró, da música negra, dos causos ribeirinhos e, por que não, do jazz americano, do funk londrino e da música pop universal? É com uma mistura instigante, entre o sertão popular e a modernidade, que o grupo Surubim e os Pocomã apresenta o disco de estreia, com show de lançamento nesta sexta-feira, dia 10/11, às 21h, no Armazém do Campo de Belo Horizonte. O álbum homônimo foi gravado ao vivo, em Montes Claros, no Norte de Minas, referência cultural primária para os músicos Pedro Surubim (voz e violão), Pedroca Neves (contrabaixo), Dau (bateria) e Bicho Carranca (percussão), todos criados na região.

No nome, Surubim e os Pocomã alude a dois dos peixes populares que habitam o Velho Chico, e faz uma ode à vida que acontece ao redor do único rio inteiramente brasileiro, que percorre dezenas de municípios do Norte de Minas e garante a subsistência de populações ribeirinhas em cerca de 2.830 quilômetros de extensão — contando da nascente geográfica na cidade de Medeiros (MG) até a foz, entre os estados de Alagoas e Sergipe.

A partir desse contexto, as nove músicas autorais do álbum soam como um cartão de visitas sonoro do Norte de Minas e de uma população autodenominada como barranqueira, por morar em barrancos formados às margens do Velho Chico. Lá, pescadores ensinam a viver do rio e a preservá-lo; geraizeiros mantêm o cultivo de alimentos em coletivo; trabalhadores da cidade e do campo se reúnem nas festas tradicionais, como a folia de reis; e os catingueiros, habitantes tradicionais do bioma da Caatinga, representam vaqueiros, agricultores, indígenas, quilombolas e tantas outras expressões características da região.

“Nosso som é a representação da musicalidade e da forma de fazer arte na nossa região. As composições falam exatamente sobre isso: as ideias típicas do Norte mineiro, as pessoas e seus hábitos, os moradores mais antigos, a tradição popular, o sagrado e a jornada que é chegar ao sertão profundo. Fala do povo que faz essa história, dos barranqueiros, dos geraizeiros, dos trabalhadores da cidade, dos pescadores, dos que vivem e lutam no campo”, resume Pedro Surubim, vocalista da banda.

A síntese da proposta do grupo Surubim e os Pocomã pode ser ilustrada com “Brasil Lameiro”, faixa que fecha o álbum repetindo um refrão inspirador como se fosse uma identidade sertaneja: “apesar de ser de barro, não sou obrigado a me atolar”, em crítica direta aos estereótipos impostos ao sertão. Já “Mutalambô”, faixa que pode ser considerada um apelo em forma de oração, no clássico formato de canção, remete ao orixá protetor da natureza na cultura dos caboclos de Congo e Angola, e anuncia versos de fé como elogio às crenças de um povo que precisa respeitar o sertão, antes de poder percorrê-lo (“seus filhos pedindo a Tupã para proteger os caminhos do povo que rumava no sertão”).

 Música Popular Barranqueira

A partir desses símbolos culturais do Norte mineiro, a sonoridade de Surubim e os Pocomã, também definida como Música Popular Barranqueira (MPB), é um convite para a ginga do corpo, abusando de arranjos de violões acelerados e percussões marcantes presentes em todos os arranjos. Sonoramente, são muitas referências, desde artistas populares que valorizam o cancioneiro regional, como Nação Zumbi, Markus Ribas e Lenine, até inserções abundantes de forró, xote, baião, cantos dos catopês — representantes do povo africano, originários do Congo — e danças de religiões de matriz africana, como o calango e o lundu. Tudo isso ganha salpicadas do jazz e da música pop, elementos que, de certa forma, estão embutidos na musicalidade norte-mineira, como avalia Pedro.

“Nós já carregamos a música universal na nossa raiz. Um exemplo disso são os rabequeiros, como o Seu Jeny de Palmeirinha, morador da cidade de Pedras de Maria da Cruz (distrito de Januária, no Norte de Minas), que não sabe o que é escala musical, mas é um dos maiores improvisadores deste instrumento no Brasil. Então, o improviso, tal qual como o jazz é concebido, já está por aqui. Por isso, associar essas referências à banda foi algo muito natural”, avalia Pedro.

“Xote Jamiroquai” talvez seja a canção do álbum que represente melhor a ideia de uma música com caráter de universalidade, a partir do sertão regional. O xote, variação clássica do forró, ganhou um balanço de funk jazzístico bem característico da banda britânica Jamiroquai. Um suingue norte-mineiro de personalidade, ilustrado por um refrão potente sobre essências e subjetividades da vida sertaneja: “eu sou pedra, sou trovoada, sou ventania do sertão / eu sou carranca, chuvarada, eu sou a sorte dessa embarcação”.

Disco ao vivo

 Ao invés do clima de estúdio, o álbum foi gravado ao vivo, formato preferido da banda para improvisar arranjos e elementos sonoros em cima de composições que, muitas vezes, nascem em cima do palco mesmo, em criações coletivas. Foi desta forma, aliás, em encontros por festivais e shows do Norte de Minas, que os músicos se conheceram, ainda em 2020, antes da pandemia, num encontro que depois se tornaria Surubim e os Pocomã.

“Como somos uma banda nascida praticamente no palco, estamos muito voltados para a interação com o público e com o jeito de nos apresentarmos ao vivo. Os nossos shows têm uma magia específica, acontece uma espécie de ritual e uma forte conexão com o público. Portanto, nosso primeiro registro enquanto disco não poderia estar desconectado desse momento e jeito de fazer o nosso som”, avalia Pedro Surubim.

 Shows de lançamento

O show de lançamento do álbum “Surubim e os Pocomã – Ao Vivo”, que tem apoio do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), acontece no Armazém do Campo de Belo Horizonte, na sexta-feira (11/10), a partir das 21h. Depois, no dia 25/11 (sábado), a banda volta ao Norte de Minas para o segundo show do disco, no Armazém do Campo de Montes Claros. “Estamos com a expectativa de que sejam duas grandes festas. Nosso público nos abraça e a energia é muito vibrante quando nos apresentamos nos Armazéns. Em ambos os shows teremos participações especiais”, adianta Bicho Carranca, percussionista do grupo.

SERVIÇO | SURUBIM E OS POCOMÃ

Lançamento do álbum “Surubim e os Pocomã – Ao Vivo”

Onde. Armazém do Campo de BH

(Avenida Augusto de Lima, 2.136 – Barro Preto)

Quando. Dia 10/11, sexta-feira, às 21h

Quanto. A entrada é gratuita, mas apoiadores podem colaborar por PIX pela chave surubimeospocoma@gmail.com

Surubim e Os Pocomã nas redes

https://instagram.com/surubimeospocoma

https://youtube.com/@SurubimeosPocoma?si=9T_ONkVw4aaOTpZ2

 

 

 

 

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