Mulheres do Grande Sertão Veredas recebem Carteira Nacional do Artesão

Cerca de 60 artesãs foram contempladas com o documento em evento do Governo de Minas, em parceria com o Sebrae Minas, na cidade de Arinos

A arte de fiar, tingir, tecer e bordar o algodão, reproduzindo a fauna e a flora do Grande Sertão Veredas, em peças de decoração, almofadas, colchas e mantas, levou cerca de 60 artesãs do Noroeste de Minas Gerais a serem reconhecidas pela profissão com a Carteira Nacional do Artesão. A entrega do documento foi realizada na última quarta-feira (23/3), durante o Encontro Regional de Artesanato, em Arinos, como parte da programação da 5ª Semana Mineira do Artesão, realizada pelo Governo do Estado, por meio da Diretoria de Artesanato da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede-MG), em parceria com o Sebrae Minas.

A região, imortalizada na obra do escritor Guimarães Rosa, possui uma rede de produção de algodão, tingimento, fiação, tecelagem, bordados e caixas de fibra de buriti, que reúne diversos artesãos, a maioria mulheres, de Riachinho, Uruana de Minas, Arinos, Sagarana (distrito de Arinos), Natalândia, Bonfinópolis de Minas, Urucuia, Chapada Gaúcha e Serra das Araras (distrito de Chapada Gaúcha). Na ocasião, também foi apresentado o projeto Artesanato: Grande Sertão Veredas, que oferecerá capacitações, oficinas e cursos a fim de qualificar a atividade das artesãs e, propor, futuramente, o reconhecimento de Denominação de Origem.

Trata-se de uma região muito vocacionada, com produtos únicos, muito bem elaborados. O reconhecimento dessas artesãs com a Carteira Nacional vai possibilitar que elas participem de capacitações e recebam benefícios do Estado, destaca o diretor de artesanato da Sede-MG, Thiago Tomaz Sousa Chaveiro.

Para a assistente do Sebrae Minas Amanda Guedes, a entrega do documento às artesãs é um reconhecimento da profissão e do território como produtor de artesanato, além de ser uma garantia de proteção dos saberes tradicionais dessas mulheres. O Sebrae tem um histórico de mais de 20 anos de atuação com esses grupos de artesãs e, hoje, é um dia muito especial como forma de homenageá-las e inspirá-las a continuarem o trabalho com projetos ainda mais robustos e que garantam renda e qualidade de vida para elas.

Mãos que criam

O artesanato do Grande Sertão possui uma conexão extrema com o território, retratando a vida e as cenas cotidianas das pessoas que ali moram. Um patrimônio imaterial passado de geração em geração. Entre as agraciadas com a carteirinha estão as bordadeiras Gildete Alves Ferreira e Juliana Alves Mota, mãe e filha, artesãs de Arinos.

Para Juliana, de 22 anos, que borda desde os 14, o documento representa um verdadeiro título. Era algo que estava esperando há muito tempo. Eu me sinto até honrada, porque antes a gente só fazia os bordados e não tinha o reconhecimento da profissão.

Já Gildete destaca a importância do documento para a história da sua família. É uma coisa muito grande para mim. Um documento que a gente nunca teve na vida. Minha mãe não teve, minha avó, que já faleceu, nunca teve. Isso só incentiva a continuar fazendo o que a gente ama, revela.

Central Veredas

Todo o trabalho feito pelas artesãs do Grande Sertão Veredas é organizado e gerido pelo projeto Central Veredas, uma rede solidária de produção composta por nove associações distribuídas entre os municípios da região. Fundada em 2008, com apoio do Sebrae Minas, a Central surgiu para fortalecer os núcleos de artesãs, por meio da compra coletiva de materiais para produção e comercialização desses produtos. Atualmente, a Central Veredas, com sede em Arinos, possui 100 artesãos ativos.

Boa parte dessa produção é comercializada, ao longo do ano, nas principais feiras de artesanato do país. Entretanto, a pandemia atrapalhou as vendas, como explica a gestora do projeto, Monique Figueiredo. A pandemia reduziu em 80% o faturamento da Central. Mesmo com todas as dificuldades, nós não deixamos de produzir no período. Segundo ela, as peças são vendidas de maneira on-line, por meio do site www.centralveredas.com.br e das redes sociais.

Comentários

O Lábaro

Posts Relacionados