Editorial | A natureza que resiste

 Editorial | A natureza que resiste

“A natureza que resiste” descreve a resiliência da vida e dos ecossistemas frente aos desafios impostos pelo ambiente e pelas atividades humanas, como a urbanização e as mudanças climáticas, demonstrando a capacidade da natureza de se manter viva, se regenerar e se adaptar, mesmo em locais antes considerados degradados.

É surpreendente como, diante da brutalidade da motosserra que transforma árvores em tocos, a vida insiste em voltar. Brotos surgem, verdes e intensos, rompendo a aridez e lembrando que o ciclo da vida não se deixa encerrar tão facilmente. Essa força silenciosa é, ao mesmo tempo, beleza e advertência.

Estudos recentes mostram que biomas brasileiros têm demonstrado uma notável, mas limitada, capacidade de regeneração. Segundo o MapBiomas (2024), mais de 12 milhões de hectares de áreas desmatadas no Brasil apresentaram sinais de regeneração natural. No Cerrado, raízes profundas permitem que espécies sobrevivam mesmo após queimadas frequentes. Já na Amazônia, pesquisas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) revelam que áreas de floresta secundária podem recuperar parte de sua biodiversidade em algumas décadas, se houver proteção adequada. Até em espaços urbanos, estudos de ecologia urbana registram como plantas e aves encontram formas de resistir em meio ao concreto.

Mas não podemos confundir resiliência com licença para devastar. A natureza resiste, mas também tem limites. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2023) alerta que a perda acelerada de biodiversidade e a elevação das temperaturas colocam em risco a capacidade de regeneração dos ecossistemas. O Brasil, que concentra a maior floresta tropical do mundo, está entre os países mais afetados pelo desmatamento e pela crise climática.

Como lembrou Chico Mendes, seringueiro e defensor da Amazônia, “a luta pela floresta é, ao mesmo tempo, uma luta pela humanidade”. Já Clarice Lispector nos recorda que “até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro”,  e o mesmo vale para a natureza: retirar árvores sem pensar no equilíbrio pode desmoronar todo um ecossistema.

Henry David Thoreau, pioneiro do pensamento ambiental, escreveu que “em cada floresta está o milagre do renascimento”. E, nas palavras de Rubem Alves, “uma árvore é sempre uma pregação de esperança”.

A pergunta que se impõe é: até quando haverá chance de renascimento?

Este editorial é um convite à reflexão e à responsabilidade. Se a vida insiste em se refazer, cabe ao homem aprender com ela. É preciso avançar em políticas públicas que priorizem a sustentabilidade, fortalecer a educação ambiental e repensar o modelo de consumo que transforma recursos em escassez. Mais que resistir, a natureza precisa de aliados, e nós precisamos dela para existir.

A árvore que renasce no toco é símbolo de esperança. Mas esperança, sozinha, não basta: exige ação.

A Editora

Comentários

O Lábaro

Posts Relacionados