Quando uma árvore cai, a cidade perde um pedaço de si

Editorial
Oito anos sem a gameleira da Praça do Rosário: a ausência que ainda fala
No dia 23 de agosto de 2017, a Praça do Rosário testemunhou um crime silencioso. A imensa gameleira, que durante décadas acolheu vidas em sua sombra e refrescou a memória de tantos paracatuenses, foi assassinada na madrugada. O fogo, ateado por mãos criminosas, destruiu mais que uma árvore: feriu o coração de uma cidade.
À época, o jornal O Lábaro denunciava que as galhas da gameleira estavam sendo consumidas por besouros. Alertamos para o risco, pedimos cuidados, mas nada foi feito. O destino da árvore se cumpriu no descaso e no vandalismo. Oito anos se passaram, e a praça ainda guarda o vazio daquela ausência.
Desde então, outras árvores também tombaram, algumas pela pressa da construção, outras pela irresponsabilidade, outras ainda pelo mesmo vandalismo que insiste em nos roubar o verde. O resultado é sentido por todos: temperaturas cada vez mais altas, ar mais seco, ruas mais áridas. A cidade sofre. Nós sofremos.
Proteger a natureza não é apenas tarefa de ambientalistas, mas um compromisso coletivo. É reconhecer que tudo no planeta está interligado e que a nossa própria vida depende do equilíbrio do meio em que vivemos. Cada árvore preservada é um gesto de cuidado com o futuro.
“Nesses tempos de céus de cinzas e chumbos, nós precisamos de árvores desesperadamente verdes”, lembrou o poeta Mario Quintana.
Que a lembrança da gameleira da Praça do Rosário seja mais que uma memória dolorida: que seja um chamado para que Paracatu não aceite perder outras árvores, nem se acostume com a ausência da vida que elas sustentam. Porque cada sombra que se vai, leva consigo um pouco de nós.
“Toda arvore de pé é uma arvore de natal”
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