Motosserras avançam e Jóquei Clube entra para a lista do desmatamento urbano

Corte de árvores para construção de bar molhado revolta frequentadores e expõe descaso ambiental em um dos espaços mais tradicionais de Paracatu.
Antes e depois:
No lugar do canto dos pássaros, o som ensurdecedor das motosserras. Foi assim durante toda esta terça-feira (5) no interior da praça de esportes do Jóquei Clube Paracatuense, um espaço que, embora mais recente, faz parte da história do clube fundado há 97 anos e considerado um dos símbolos da cidade. Frequentadores acompanharam com indignação o que seria uma simples poda de manutenção, mas que se transformou em cortes drásticos e remoção de árvores inteiras.
Agora, onde havia sombra, frescor e vida, restam apenas troncos e galhos espalhados pelo chão. Um cenário árido que contrasta com a promessa de lazer em harmonia com a natureza. A justificativa da administração? Um projeto para a construção de um bar molhado e reclamações sobre folhas caindo nas piscinas.
Não é só a cidade de Paracatu que leva a fama de “cidade dos tocos”. Agora, o Jóquei também ostenta esse triste título. A mudança radical no espaço levanta questionamentos: é possível falar em lazer enquanto se destrói aquilo que garante conforto térmico, beleza e equilíbrio ambiental?
As árvores cortadas eram todas Sibipirunas (Caesalpinia pluviosa). Essa espécie não é nativa do Cerrado, mas da Mata Atlântica. Apesar disso, está bem adaptada à região e é amplamente usada na arborização urbana. Floresce entre agosto e novembro e, vejam só, estava prestes a encher o espaço com seus tons amarelos, trazendo vida e beleza. Agora, a paisagem que ela compunha foi substituída por um vazio.
O Jornal O Lábaro apurou que intervenções dessa magnitude não afetam apenas a estética: comprometem a biodiversidade, a fauna que encontra abrigo nas copas e o microclima da área. Árvores levam anos para crescer, mas basta um instante, e uma decisão apressada, para derrubá-las.
O que falta? Tempo para pensar antes de cortar. Consciência para não trocar raízes por concreto. Porque um clube sem árvores não é lazer: é apenas um espaço árido, onde até a alegria perde a sombra.
E o que dói ainda mais é saber que estávamos tão perto de ver as Sibipirunas florirem. Em poucas semanas, o amarelo intenso tomaria conta do cenário, trazendo cor, vida e poesia para os dias de primavera. Mas, antes que isso acontecesse, a beleza foi interrompida pelo barulho das motosserras. Um espetáculo que nunca veremos, e que não se recupera com concreto.
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