MORRE O HOMEM FICA O….

imagem da internet para ilustração

Em Minas Gerais, pelas bandas de Diamantina, num dos inúmeros e minúsculos municípios/cidade, há numa rua um terreno abandonado cuja moradia inexiste, apenas marcas de uma pequena casa destruída pelo tempo, no poste de luz uma placa desbotada com o NOME: Rua Zé Biguá.   Passos miúdos, nenhuma pressa, bermuda e camiseta sem manga, raramente põe um calçado fechado, as havaianas gastas de forma irregular denunciam com um som de arrasto a chegada de Zé Biguá.   O homem anda mais que ônibus circular em cidade pequena, nesse instante se aproxima da única padaria do povoado, olhar atento, não pode ver uma aglomeração, pequena que seja, ele se aproxima, o objetivo?   Atualizar as fofocas.   Biguá está em todo quanto é canto, se tem jogo no estádio Beira Rio ele comparece.   Caso a paróquia promova qualquer movimento na igreja, eis que o Zé chega perto e toma frente, nas barraquinhas de junho ele é um dos primeiros a se voluntariar, é o leiloeiro oficial.   Não se sabe como mas se alguém falece, Zé Biguá parece adivinhar, é um dos primeiros a dar notícia, apelidaram-no de papa defuntos.   Conhece pelo nome cada um dos quase três mil habitantes.   Na Pousada da Dona Sofia se chega cara nova, quem quer que seja, Biguá comparece e se apresenta, logo está sabendo tudo do forasteiro.   Alguns o chamam de prefeito.   Percorre o povoado de ponta a ponta.   Zé nunca casou, sabe-se que ele tem uma queda por uma das filhas do Julião, de tempo em tempo Biguá beira o baldrame da casa da sua pretendida, tímido que só.   Julieta sabe das intenções de Zé, fica toda mexida quando ele passa perto, o coitado do Biguá nunca teve coragem de entrar na casa de Julião, aí fica esse chove não molha.   Chega pois o mês de junho, muitos festejos no povoado e região, acontecem casamentos, batizados, dentre outros.   Corre no povoado o boato, Julião vai casar duas filhas de uma vez, muita animação, uma novilha gorda foi abatida, uma festa de dar inveja em gente rica.   Dias depois os padres dão início aos preparativos das barraquinhas, Dom Silvério manda chamar o Zé.   A beata retorna tempo depois dizendo que a casa 104 está fechada, ninguém atendeu, entendeu a boa mulher que Zé Biguá viajou.   Passam dias, indagações de todo jeito, um diz ter visto o Zé saindo com umas malas, outros dizem que Biguá com o semblante triste estava na ponte do Rio Escuro.   Ninguém sabe ao certo.   Zé Biguá tomou rumo ignorado.   No Sitio do Coqueiro uma jovem senhora que casara recentemente, ao saber das informações sobre o Zé, disfarça deixando cair umas lágrimas e ninguém sabe por quê.   Se Zé Biguá estivesse nas proximidades saberia, se saberia.   Ainda hoje, muito tempo depois as pessoas do povoado se perguntam, e as respostas são as mais variadas, Zé morreu!   Machucado pela paixão o Biguá foi para o norte!   O certo, é que a casa 104 nunca mais foi a mesma, fechada foi destruída pelo tempo.   A o Zé Biguá, o SABE TUDO, de politica, fofoca e religião, dele ninguém nunca mais deu notícia.   Dizem que a paixão tem esse dom, aproxima as pessoas nuns casos, noutros cria e alimenta a ideia do ódio e repulsa, e, em último caso esse bendito sentimento provoca o afastamento das pessoas, como se distância resolvesse.

Miguel Francisco do Sêrro

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O Lábaro

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