Crônica O mundo em pausa

+ Nágela Caldas

De repente a humanidade precisou dar uma pausa. A Terra voltou a respirar aliviada. As luzes das grandes cidades já não ofuscam mais as das estrelas. Em todo o planeta, animais estão felizes em não ser perturbados pelos humanos. Uma pausa.

O mundo parou. Uma forte tensão no ar por não ser possível saber como será daqui para frente. Há um denominador comum entre cientistas e especialistas de diversas áreas: nada será como antes. As relações vão mudar após essa pandemia. Não exatamente por que as pessoas querem, mas pela necessidade de sobrevivência.

Muita gente está reclamando de ter que ficar em casa. Reclamam por medo, ignorância sobre a gravidade da realidade, ganância ou falta de empatia e compaixão pelos que estão na linha de frente nos hospitais e nos diversos serviços essenciais. Outro tanto está aproveitando a pausa para refletir sobre o que é imprescindível.

Por escolha e circunstâncias da vida, morei em algumas cidades, em estados diferentes. Saí da casa dos meus pais antes dos 19 anos. Era uma época sem internet e a espera por uma carta da minha gente era angustiante.  Após algum tempo, voltei, me mudei de casa e fui embora de novo. Desta vez para outro país. E desde a minha primeira mudança, no início da minha idade adulta, reconheci, conscientemente, a importância do abraço no reencontro.

Hoje, a internet tem aliviado essa falta diária de sentir o abraço e o cheiro da minha mãe e o carinho de toda a minha família e dos amigos. Alivia, mas o whatsapp não substitui os olhos nos olhos e aquele abraço apertado e demorado.

Nesta quarentena, tenho refletido profundamente sobre o que é fundamental na vida. Percebi que cada dia dessa pausa involuntária está escancarando que todos nós somos um, que precisamos um do outro.

Há algum tempo, entendi que eu tinha roupas demais, sapatos demais e coisas demais. Entendi que estava consumindo muito também em conteúdos na internet. Eram receitas prontas para ser mais feliz, para ser mais produtiva, para ser melhor mãe, para ser mais econômica, para investir melhor o dinheiro, para ser expert nisso e naquilo. Mais e mais. Muito mais. Demais!!! Passei da conta.

No ano passado, em mais uma mudança de estado, desapeguei de roupas e outros objetos sem sentido para mim. Nesta pausa mundial, resolvi sair de algumas redes sociais que já não me faziam bem. Estou me desfazendo também de antigos ressentimentos.  Continuo no processo de retirada do que perdeu o valor. Olho para o lado e vejo que ainda tenho algumas gavetas cheias.

Agradeço a sua atenção em ler até aqui, mas preciso voltar ao meu trabalho de limpeza. Acredito que aquele abraço apertado logo será dado por mim e por você. Cuide-se! Cuidemo-nos!

* Nágela Caldas, é jornalista, natural de Paracatu(MG) e membro da Academia de Letras do Noroeste de Minas. Atualmente mora em Madison, Alabama, nos Estados Unidos.

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