O Brasil perde José Israel Vargas

 O Brasil perde José Israel Vargas

Na manhã de 15 de maio, o Brasil perdeu José Israel Vargas (1928-2025).

Nascido em Paracatu, no interior de Minas Gerais, o físico era professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Foi ministro da Ciência e Tecnologia, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) de 1991 a 1993 e da Academia Mundial de Ciências (TWAS).

Formou-se químico pela UFMG, estudou física no Instituto Tecnológico da Aeronáutica e doutorou-se em ciências nucleares pela Faculdade de Física e Química da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. De volta ao Brasil, tornou-se professor da UFMG, onde dirigiu o Instituto de Pesquisas Radioativas, e foi assessor técnico da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Também foi pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. Foi um dos formuladores da política de energia nuclear do país no início dos anos 1960.

Na ocasião do golpe militar de 1964, seu laboratório foi tomado pelo exército, foi demitido da CNEN e afastado da UFMG. Foi então para a França voluntariamente e lá ficou por quase sete anos, atuando como pesquisador do Centro de Estudos Nucleares do Comissariado de Energia Atômica, em Grenoble, na França, onde liderou um grupo de pesquisa.

Em sua carreira acadêmica, desenvolveu trabalhos sobre as transformações nucleares nos sólidos observadas por meio das interações hiperfinas. Nesse tipo de interação, a radiação emitida pelo núcleo é usada para descrever o estado do próprio átomo. Seu objetivo era entender o que acontece com o átomo que sofre uma transformação nuclear. Dedicou-se ainda ao planejamento e modelagem de sistemas energéticos.

Na área pública, foi secretário de Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, ministro de Ciência e Tecnologia entre os anos de 1992 e 1999, nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Esteve à frente de realizações relevantes nesse campo, como a expansão e consolidação da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), além de ter trabalhado para aprimorar a qualidade da produção nacional, aperfeiçoando o Sistema Nacional da Propriedade Intelectual e a Metrologia e a Normatização.

Ocupou também cargos importantes no exterior. Foi membro da Comissão Assessora para as Políticas de Cooperação Intelectual
Internacional da Organização das Nações nidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e integrou o Conselho do Instituto de Estudos Avançados da Universidade das Nações Unidas, onde ajudou a desenvolver projeto para a pesquisa de uma linguagem entre computadores que permitisse a tradução automática de línguas. Foi embaixador do Brasil na Unesco e presidente do seu Conselho Executivo. Presidiu a Academia de Ciências para o Mundo em Desenvolvimento (TWAS), atual Academia Mundial de Ciências, por duas vezes.

José Israel Vargas foi um defensor da energia nuclear e crítico do corporativismo na ciência brasileira. A Academia Brasileira de Ciências lamenta profundamente a perda desse grande brasileiro e se solidariza à família.

(Fontes: revista Pesquisa Fapesp, UFMG 90 anos, livro Ciência no Brasil: 100 Anos da ABC)
https://www.abc.org.br/2025/05/15/o-brasil-perde-jose-israel-vargas/

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