O RIO GRANDE SE DEGOLA

Ivar Hartmann

Nos meus tempo de caçar perdizes no inverno, sólito pelos campos de Tupanciretã, seguido pelo Sepé e depois pelo Bozó, fiéis companheiros perdigueiros, os pensamentos voavam para o nada, envolvidos pela solidão do deserto campeiro, onde, nos antanho, o horizonte era do gado pastando. Então, poucas vezes, depois do tiro errático a perdiz que recém alçara voo lançando cocô e seu priiiiiiiiii, muito próximo de uma cerca de aramado, batia nela. A linda melodia dos Serranos, Entrando no Bororé, retrata este momento nos versos: “E uma perdiz se degola no último fio do alambrado…” Levada pelo susto, sem noção exata de para onde fugir, a pobre batia no fio do arame, as vezes dava a volta pelo seu pescoço, e caia morta logo adiante. Esta perdiz é a imagem mesmo do Governador do Rio Grande e do Presidente do Brasil, na luta contra o vírus chinês. Sem noção exata, como não tem esta noção exata, nem a Organização Mundial da Saúde, nem os médicos infectologista do mundo, muito menos seus leigos governantes, tudo são tentativas da fuga do perigo. O que fazer? Com que providências? São perguntas respondidas como o voo final da perdiz, no desespero de acertar.

Algumas providências são corretas, vejam o uso de máscara, de sabão e de fugir das aglomerações. Outras, como manter a população em casa, não tem dado os resultados desejados. Entre estas o manter o comércio fechado. Com um custo econômico cada vez maior. Fecha, abre. Fecha, abre. Estoques perecíveis se perdem, empregos se perdem, patrões se perdem. Nenhuma economia moderna sobrevive sem o troca-troca do comércio, sem o vai e vem dos compradores, sem a possibilidade de iniciativa dos vendedores. Do que resulta trabalho, imposto e riqueza. Não são os fiscais que deveriam estar nas ruas. É a polícia que deveria fiscalizar normas sadias de abrir todos os negócios. Na economia como na política, os extremos são nocivos à população. Abrir com normas rígidas antes que a desobediência civil, último e desesperado recurso se instaure. As bandeiras são ácido corrosivo.

 

ivar4hartmann@gmail.com

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