Quilombo São Domingos lança catálogo de experiências turísticas: quando a memória se torna destino e o território, caminho de aprendizado

 Quilombo São Domingos lança catálogo de experiências turísticas: quando a memória se torna destino e o território, caminho de aprendizado

Em uma manhã de celebração e ancestralidade, comunidade quilombola apresenta projeto coletivo que une tradição, turismo e desenvolvimento local

O Quilombo São Domingos, em Paracatu, amanheceu em festa nesta quinta-feira (23). O ar era de emoção e conquista. No coração da comunidade, entre vozes, cantos e sorrisos, foi lançado o Catálogo de Experiências Turísticas do Quilombo São Domingos, um marco de reconhecimento, identidade e fortalecimento da cultura quilombola.

O material foi cocriado com 11 anfitriões locais, fruto de um trabalho coletivo realizado pelo Sebrae Minas e pela Prefeitura Municipal de Paracatu, com apoio da Associação Comunitária e do Circuito Turístico Noroeste das Gerais, e execução das empresas Macaúba Desenvolvimento Local e Raízes Desenvolvimento Sustentável.

Mais do que um catálogo, o lançamento representa um novo capítulo na história da comunidade, o momento em que o passado e o presente se unem para construir um futuro de autonomia, pertencimento e orgulho.

Uma abertura guiada por vozes e memórias

O evento teve início com as anfitriãs Valdete e Isabel Lopes, irmãs e guardiãs da Casa Museu Aureliano Lopes, espaço onde o tempo se abriga em objetos, retratos e histórias. É ali que a memória se faz viva, pulsando em cada canto e lembrança.

O público se emocionou com a apresentação da senhora Romilda, que entoou um hino composto por Valdete Lopes, uma canção de boas-vindas que ecoou como um abraço ancestral. Cada verso parecia dizer: “esta terra tem voz, e ela se reconhece em cada um que acredita no turismo de base comunitária como um caminho de desenvolvimento, autonomia e valorização cultural.”

A força da comunidade que caminha unida

A Associação Comunitária de São Domingos tem sido o alicerce dessa jornada, articulando e organizando cada passo da caminhada coletiva. Sua representante, Irene, lembrou que a força da comunidade está na união, e é dela que nasce a coragem de transformar sonhos em projetos reais.

O Sebrae Minas, parceiro essencial nessa construção, vem oferecendo apoio técnico e consultorias voltadas ao empreendedorismo, ao fortalecimento do turismo de base comunitária, ao protagonismo feminino e ao afroturismo em Minas Gerais.
Durante o evento, Patrícia Rezende, analista do Sebrae, destacou a importância da parceria entre Sebrae e Prefeitura e agradeceu a todos os envolvidos que acreditaram na potência de São Domingos.

Parcerias que constroem caminhos

Representando o poder público, o vice-prefeito Pedro Adjuto reafirmou o compromisso da Prefeitura com o fortalecimento da comunidade e o desenvolvimento do turismo local.
A secretária da Mulher, Igualdade Racial e Juventude, Maria José Magalhães, ressaltou o papel histórico e cultural de São Domingos na formação de Paracatu, destacando a importância de valorizar quem ajudou a construir o município.
O secretário de Turismo, Igor Diniz, falou com esperança sobre o futuro do turismo comunitário e sustentável na região, enquanto o presidente da Câmara Municipal, vereador Manoel Alves, emocionado, recordou passagens de sua infância na comunidade, reconhecendo o valor humano e cultural daquele território.

O catálogo que nasce da experiência e da escuta

Desde 2023, o Sebrae tem atuado diretamente na estruturação do turismo de experiências junto à comunidade, promovendo oficinas, diagnósticos, visitas técnicas e testes de vivências.
O resultado desse trabalho colaborativo é o Catálogo de Experiências Turísticas do Quilombo São Domingos, apresentado por Priscila Martins, da equipe da Macaúba Desenvolvimento Local.
Ela destacou como o turismo de base comunitária e o afroturismo se entrelaçam às histórias, aos saberes e à hospitalidade do povo quilombola, que agora compartilha com o mundo suas tradições e modos de vida.

Vozes que mantêm viva a tradição

Depois de tanta construção coletiva, chegou o momento mais esperado: ouvir quem faz a história acontecer todos os dias.
Dona Cristina, mestra griô e guardiã da tradição da Caretagem, emocionou o público ao falar sobre a força das raízes e a importância de manter a cultura viva para as novas gerações.
Kellen, jovem trancista e empreendedora do quilombo, representou a juventude que prospera a partir da ancestralidade, unindo arte, trabalho e identidade.

Na sequência, foi apresentada a nova marca do turismo de São Domingos, inspirada nas cores da terra, na força das tradições e na ancestralidade que habita cada canto do quilombo. Uma identidade visual que traduz em imagem o orgulho e a resistência de um povo.

O turismo como ferramenta de resistência e futuro

O encerramento foi de celebração e esperança. Entre aplausos e sorrisos, ficou evidente que o turismo, ali, é mais do que visita: é vivência, é respeito, é troca.
São Domingos mostra ao mundo que turismo pode ser ferramenta de resistência, geração de renda e valorização cultural.

Porque quando uma comunidade conta sua própria história, ela não apenas preserva suas raízes, ela prospera.
E o som das vozes, o cheiro da comida, o brilho dos olhos e o calor da acolhida de São Domingos certamente ecoarão muito além das fronteiras de Paracatu.

Experiências no Quilombo São Domingos

Após o lançamento do Catálogo de Experiências Turísticas do Quilombo São Domingos, a tarde seguiu em clima de descoberta e encantamento. Representantes da imprensa de Belo Horizonte, dos jornais O Tempo e Itatiaia, de Brasília o Correio Braziliense e de Paracatu o Jornal e Portal O Lábaro puderam vivenciar de perto um pouco da história, da força e da alma dessa comunidade ancestral.

O roteiro começou na Casa Museu Aureliano Lopes, guardiã de memórias e única casa de adobe remanescente no quilombo. Sob a acolhida das irmãs Valdete e Isabel Lopes, os visitantes ouviram histórias que atravessam gerações, sobre resistência, arte e sobrevivência, contadas com o brilho de quem carrega a herança viva da terra e da luta.

Em seguida, as mãos se tornaram instrumentos de aprendizado na oficina de fabricação do açafrão, conduzida por Isabel, que mostrou o processo artesanal e delicado da especiaria, enquanto o aroma do tempero ancestral se misturava ao vento suave da tarde.

A experiência continuou com um almoço quilombola, no espaço Planeta, onde os sabores da tradição se transformaram em poesia servida à mesa, um banquete de identidade e afeto.

Mais adiante, os visitantes foram recebidos por Dona Cristina Coutrim, mestra griô e guardiã da tradição da Caretagem. Entre máscaras coloridas, histórias e risadas, todos foram convidados a colocar a mão na massa e confeccionar suas próprias máscaras, símbolos de fé, festa e resistência.

O dia terminou com o Café Quilombola, que trouxe o cheirinho inconfundível de pão de queijo e o sabor do Bolo Zumbi, preparado com a rapadura feita no próprio quilombo.

E, quando a noite pousou sobre São Domingos, a apresentação da Caretagem encerrou o ciclo, uma celebração vibrante a São João Batista, com danças, cantos e o pulsar coletivo de um povo que transforma sua história em arte e seu território em caminho de esperança.

 

 

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