O SINO E O PENSAMENTO

Corpo mirrado quase esquelético, passos largos, atravessa a única praça daquele povoado que pertence a um município mineiro, um senhor já, no entanto, visto de longe mais parece um garoto de pequena estatura, ruma ele em direção à igreja local.   Instantes depois se ouve um badalar, marca aquele som um passeio da minha mente pelas ruas estreitas do povoado, quase que enxergo, negros e negras descalços subindo e descendo a íngreme ladeira, fecho os olhos e continuo a gostosa viagem mental, a cada intervalo de 10 segundos é possível notar mesmo a grandes distâncias o som impar de um novo badalar.   Existem lugares e/ou locais onde o vírus da evolução não teve forças para transformar, mesmo que as pessoas se submetam ou imponham a si, as mudanças advindas da modernidade, a história através de marcos e obras preservadas conservam relíquias que nos permitem retroceder no tempo, e, como se num passe de mágica, numa espécie de traslado, acabamos por nos imaginar 30, 50, 100 anos atrás em determinados lugares, uma delícia de viagem.   O templo católico no qual o centenário sino está pendurado mostra de forma nítida o estilo barroco de construção, as cores predominantes de uma época, branco e azul brilham sob efeito dos últimos raios solares, às seis horas (18), o sol teima em não se esconder.   Vejo pois, surgir de todos os cantos, senhoras de longos vestidos, homens com roupas simples, alguns propositalmente usando cartolas que são retiradas ao se aproximar da igreja, hoje sim, terá missa e quermesse, como sempre teve nos últimos 80 anos, uma enorme fogueira aguarda para ser acesa um pouco mais a noite nos festejos de São João, o pacato vilarejo entrará noite adentro em comemoração.   Neste lugar a exemplo de tantos outros Brasil a fora, deliciosamente o tempo parece que parou.   A propósito, exatamente após seis badaladas que anunciava a celebração da tarde, o sino, o bendito sino, cumpriu sua sina e também parou.

(Jair Rodrigues cantava “Meus pensamentos tomam formas e viajo vou pra onde Deus quiser”)

Miguilim no São João – Num mês de junho frio – Bom fim de semana!

Miguel Francisco do Sêrro – Historiador e Advogado

Comentários

O Lábaro

Posts Relacionados