Experiências em recomposição de vegetação nativa do Cerrado são apresentadas a alunos da UnB

Estudantes conheceram experimentos com semeadura direta e plantio de mudas para recuperação de áreas degradadas de APP e Reserva Legal
Um grupo de 15 estudantes do curso de pós-graduação Ecologia da Restauração da Universidade de Brasília (UnB) realizou, na última quarta-feira (11), uma visita técnica à Fazenda Guzerá da Capital/Entre Rios e à Fazenda Nativa, no Distrito Federal, para conhecerem modelos de restauração ambiental implantados pela Embrapa e parceiros para o bioma Cerrado. Os estudos fazem parte da Unidade de Referência Técnica (URT) de recuperação da vegetação nativa do bioma.
Os pesquisadores Felipe Ribeiro, da Embrapa Cerrados (DF) e Daniel Vieira da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF), apresentaram os resultados das diferentes estratégias de recuperação de áreas degradadas em Áreas de Reserva Legal (ARL) e de Proteção Permanente (APP), avaliadas em experimentos com semeadura direta e plantio de mudas implantados em 2012. As pesquisas integram o Projeto Biomas (parceria entre a Embrapa e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA) e o Projeto FIP Paisagens Rurais, coordenado pelo Serviço Florestal Brasileiro e pelo Ministério da Agricultura e Pecuária.
“Estamos mantendo estas experiencias na URT para mostrar os resultados de crescimento após 13 anos de instalação, sendo que a legislação pede que o produtor rural tenha 15 a 20 anos para fazer a recomposição da vegetação nativa. Com a URT, podemos verificar como os plantios estão se desenvolvendo ao longo de todo esse tempo”, disse o pesquisador, agradecendo aos produtores José Brilhante Neto, Geraldo Melo Filho e Adriano Varela, proprietários da fazenda Guzerá da Capital, e Joelmir Cenci, da Fazenda Nativa, pela parceria.
Os visitantes são alunos de Daniel Vieira, professor da disciplina Ecologia da Restauração nos cursos de pós-graduação em Ciências Florestais e Ecologia da UnB. Durante o curso, são realizadas duas saídas de campo, que permitem aos alunos vivenciarem na prática os conceitos estudados em sala de aula. “Eles aprendem muito mais quando veem, no campo, a aplicação do que foi discutido teoricamente”, explica Vieira. “Neste caso, as fazendas visitadas contam com mais de 13 anos de experimentos em diferentes técnicas de restauração, oferecendo diversas possibilidades de aprendizado sobre o plantio de árvores nativas e a recuperação de ecossistemas”, completou.
Entre os experimentos observados, destacam-se a restauração de formações do Cerrado, como savana, campo sujo e floresta semidecidual, que apresentam distintos níveis e tipos de regeneração natural. Além disso, os alunos também puderam conhecer sistemas silvipastoris, ampliando a compreensão sobre as estratégias de restauração e manejo sustentável.
O pesquisador participou dos trabalhos que deram origem à URT na fazenda, tendo sido responsável pela semeadura direta em uma área de recomposição florestal, experimento que mostrou resposta surpreendente. “A área foi logo ocupada por um capim muito vigoroso, que sobe dois metros de altura. Perdemos o tempo de dessecá-lo e abandonamos o plantio. Quando o gado entrou na área como ferramenta de manejo para abaixar o capim, vimos as árvores ali, numa densidade razoável. Hoje, está formado o sistema silvipastoril. São lições que só o longo prazo nos permite”, contou. “Além disso, nos experimentos de semeadura direta e de plantio de mudas, podemos ver (após 13 anos) as árvores crescendo e fechando um dossel. Aparentemente, os tamanhos delas não diferem”, acrescentou.
A disciplina ministrada pelo pesquisador é parte de um convênio entre a Embrapa e a UnB. Os pesquisadores orientam alunos de pós-graduação da universidade e ministram uma disciplina anualmente; em contrapartida, os estudante colaboram com os projetos de pesquisa da Empresa. “Dentro da missão de capacitar, a Embrapa tem grande contribuição na formação tanto de futuros pesquisadores como de profissionais que vão trabalhar com a execução de projetos de restauração ecológica em ONGs e empresas, ou no setor público, com normatização”, explicou Vieira.
Doutoranda em Botânica, Lorena Ramos da Mata é analista da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e trabalha no Laboratório de Genética Vegetal com vários projetos de conservação ambiental. Agora, ela busca, na disciplina ministrada por Vieira, aprofundar-se no tema da restauração ecológica, visando reunir os conhecimentos em futuros projetos de pesquisa. “O que me chamou a atenção hoje, na visita, foram os diferentes tipos de restauração existentes, cada um com seus pontos fortes e fracos, e que na verdade não temos nada pré-definido. Dentro de um bioma, você precisa fazer testes e pesquisas que podem demorar 10, 15 anos para terem algum resultado e, às vezes, o ideal é a soma de um pouquinho de cada deles”, comentou.
Hugo Luiz de Paula, mestrando em Ciências Florestais, optou por cursar a disciplina para aprofundar seu conhecimento sobre os avanços científicos na restauração de ecossistemas brasileiros, especialmente no Cerrado. Ele destacou os desafios enfrentados na recuperação de áreas campestres, que, embora historicamente adaptadas ao fogo, atualmente sofrem com as perturbações antrópicas.
“Esses ecossistemas evoluíram em convivência com o fogo, mas, após interferências humanas — como a remoção da vegetação nativa e a introdução de espécies invasoras —, sua restauração tornou-se extremamente complexa,” explicou. “Percebo que ainda há um longo caminho a percorrer, tanto na restauração ecológica quanto na integração com sistemas produtivos.”
Além disso, o estudante expressou surpresa ao constatar, na parte florestal, o potencial de aliar a silvicultura de espécies nativas à restauração ecológica e produtiva no Cerrado. “Foi inspirador ver experimentos antigos voltados para a silvicultura de nativas, incluindo espécies ameaçadas, como o vinhático. Encontramos um cultivo silvicultural dessa espécie na área, que não apenas demonstra viabilidade econômica, mas também funciona como núcleo para a sucessão ecológica em ambientes florestais.”, comentou.
Embrapa Cerrados
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