Entrevista com Byato Salu – Presidente do moto clube Aventureiros do Asfalto

 Entrevista com Byato Salu – Presidente do moto clube Aventureiros do Asfalto

Fevereiro de 2024

 

Por Sandro Neiva

Uma das opções de entretenimento mais aguardadas do ano, – tendo conquistado a simpatia dos rockers, o apoio do poder público municipal e se consolidado como evento alternativo de excelência por segmentos diversos da população – o Encontro Nacional dos Motociclistas de Paracatu oxigena a economia da cidade, alavancando o turismo cultural e gerando renda para toda a rede de hotéis, restaurantes, postos de combustíveis, bares e lanchonetes. Na ultima edição do evento, cerca de três mil pessoas lotaram o Largo do Santana – bairro mais aconchegante da cidade – ao som de bandas de rock locais e de outras partes do país, que se apresentaram sobre uma poderosa estrutura com dois palcos, som, iluminação e efeitos visuais de primeira linha. Além do desfile das máquinas potentes de duas (ou três) rodas, o público ainda pôde apreciar, durante o dia, shows intimistas, de menor porte, que aconteciam nas diversas tendas de moto clubes, espalhadas ao redor da praça. Quem está por trás da organização de toda essa estrutura é o moto clube Aventureiros do Asfalto. E existe um cara responsável por checar cada detalhe, para que tudo aconteça da melhor forma para as pessoas.  É o incansável BYATO SALU, presidente do moto clube. Nesta entrevista exclusiva, concedida ao jornalista punk rocker Sandro Neiva, ele dá detalhes de como os encontros dão uma sacudida na economia da cidade; fala sobre o apoio incondicional às bandas e à cena rock do Noroeste do estado; conta sobre o trabalho voluntário voltado para famílias carentes e ainda revela curiosidades sobre os bastidores e novidades para o evento desse ano. Com vocês, o moto rocker BYATO SALU.

SANDRO NEIVA – Para início de conversa, Byato, por favor se apresente aos nossos leitores.

BYATO SALU – Meu nome é Iris José Alves Silva, mais conhecido como Byato Salu, sou natural de Paracatu (MG), tenho 57 anos bem vividos, sou casado com a Cidália, que é uma grande companheira, amiga e esposa, que sempre me dá forças em tudo que faço. Nessa caminhada, temos 26 anos de casados, mas já se vão 39 anos de namoro. Temos dois filhos (Eduardo de 23 e Gustavo de 24 anos), então, é uma cumplicidade muito grande entre mim e a Cidália. Comecei os estudos no Colégio Afonso Arinos, porém meus pais se mudaram para Unaí, depois Brasília, Goiânia, Minaçu e só depois retornei a Paracatu. Então o Curso Primário e o Ensino Médio foram feitos nessas cidades.

SANDRO NEIVA – Conte um pouco sobre a época em que era garoto.

BYATO SALU – Tive uma infância bacana, principalmente aqui em Paracatu, não posso reclamar em hipótese alguma, assim como foi para a maioria da molecada de minha geração. Falar que éramos ricos, não éramos, pobres também não éramos, apesar das dificuldades. Comecei a trabalhar aos oito anos de idade, junto com minha mãe e meu pai, que eram proprietários da lendária chopperia Pinguim Chopp, que funcionava à rua Goiás e depois foi vendida para um parente. Quando nos mudamos para Unaí, meu pai montou duas chopperias e uma oficina de refrigeração. Eu ainda era moleque e já trabalhava, mas achava aquilo muito bom e todos ficavam encantados em ver aquele molequinho trabalhando. Foi muito boa aquela época!

SANDRO NEIVA – Qual sua profissão?

BYATO SALU – Sou refrigerista desde 1985, hoje trabalho só com refrigeração automotiva e tenho uma oficina que funciona aqui em casa mesmo. Como meu pai já trabalhava com refrigeração, acabei aprendendo o ofício.

SANDRO NEIVA – Quando começou a se interessar por motos?

BYATO SALU – Meu interesse por motos vem desde que era moleque, assim como foi para muitos. Mas na verdade era um sonho distante.  Então, quando morei em Minaçu, estado de Goiás, o interesse se tornou maior. Construí muitas amizades por lá e foi com três desses amigos que comecei a andar de moto de verdade, aos 14 anos, escondido inclusive, de meu pai. Esses amigos são Kléber Segati, Márcio Nascimento e Cláudio Silva. O ano era 1980 e o Márcio ganhou do pai uma RX 125 de presente e toda a molecada da área aprendeu a andar nessa moto, tanto que o carnê de pagamento das prestações da moto não havia chegado nem na metade e ela já estava destruída. Então começou por aí, sacou? E de lá pra cá, meu irmão, foi só alegria e essa paixão por motocicletas ficou. Tanto é que até hoje mantenho contato com esses mesmos amigos e estamos sempre convivendo juntos. No ano passado, por exemplo, fizemos juntos uma viagem que estávamos planejando havia muitos anos, desde que éramos adolescentes. A ideia, na época, era a de que no futuro, quando ficássemos adultos, algum dia viajaríamos juntos, curtindo bastante. Cada um tomou seu rumo na vida, faculdade, casamento, filhos e tal, até que em 2010 nos reencontramos e comentamos sobre aquela velha ideia juvenil, da viagem de moto com os quatro juntos. Até que finalmente, em agosto de 2023, o velho sonho virou realidade. Os três saíram de Goiânia e vieram para Paracatu. Daqui rumamos para Porto Seguro, na Bahia. Curtimos lá por um dia e depois retornamos. Foi uma viagem inesquecível! Os MICK Biker Brothers (Márcio, Íris, Cláudio e Kléber) usando somente motos que nós mesmos montamos e produzimos! Eu fiz a minha Chopper – estilo icônico de motocicletas que mistura robustez e alto desempenho – eles montaram as deles em Goiânia e nós viajamos. É muito bom, cara, pertencemos a uma mesma geração e somos amigos até hoje!

SANDRO NEIVA – Como funciona esse lance de modificar as motos? É seguro para o motociclista?

BYATO SALU – Isso aí são aquelas loucuras de moleque, né! A gente pega uma moto devidamente documentada e faz todas as modificações. A minha já era modificada quando adquiri, modelo e marca chinesas, era uma Custom e eu a transformei numa Chopper. E aí a gente deixa a moto do gosto da gente, saca? Motos Chopper geralmente os aficionados nunca param de mexer, ela está sempre em evolução, esse é um ditado nosso. E quanto à segurança eu deixo tudo nos padrões da indústria, então não tem erro. Vez por outra quebra uma peça, mas isso faz parte, como acontece com qualquer moto. Aqui em Paracatu existem inúmeras motos modificadas, dos anos 90 pra cá a coisa se popularizou muito, a galera aderiu, mas a minha foi uma das primeiras.

SANDRO NEIVA – Fale um pouco sobre seu envolvimento com moto clubes.

BYATO SALU – A minha relação com motociclismo e moto clubes teve início aqui em Paracatu. Eu já sabia da existência de um moto clube na cidade, na verdade já havia uma galera que andava de moto das antigas, mas em termos de moto clube mesmo, os pioneiros foram os Aventureiros do Asfalto. Eu era louco para entrar nesse moto clube, mas para isso precisava ser convidado e tinha que ter uma moto. Até que uma vez, durante uma festa na casa de minha prima Regina, ela e seu marido Alvim, que faziam parte dos Aventureiros, me fizeram um convite para ingressar no grupo. Eu respondi que só participaria depois que eu tivesse minha própria moto, que eu tanto queria – uma Chopper. Em menos de um ano eu consegui adquirir uma Chopper e a refiz do meu jeito. Recebi, então, novo convite para ingressar no moto clube. Entrei, oficialmente, em 2009 e em 2010 fui batizado. Eu fui muito bem recebido por todos e estou no grupo até hoje. Hoje, estou como presidente dos Aventureiros do Asfalto, e quero destacar que na minha primeira viagem com o moto clube, o Elisete e o Zezé Faria me acompanharam de perto, fazendo aquele acolhimento que todo moto clube faz para os principiantes. Isso ficou marcado e é uma coisa muito bacana! Eu tenho um amor muito grande pelo moto clube Aventureiros do Asfalto e pelas motos, né cara! Então, isso é bom demais da conta! Primeiro a minha família, depois o moto clube e o rock´n´roll!

SANDRO NEIVA – Fale sobre a cena de moto clubes na cidade e como se dá o trato com o poder público municipal. Há apoio?

BYATO SALU – Aqui em Paracatu temos sete moto clubes. A galera toda se conhece, somos todos amigos e temos uma boa relação no que diz respeito ao moto clubismo. Não tem essa de briguinha nem de disputa, ou seja, há uma excelente convivência entre todos. Agora, quanto a lidar com o poder público, os Aventureiros do Asfalto têm sim, uma relação muito boa com a Prefeitura Municipal, tanto que o Encontro Nacional de Motociclistas de Paracatu é organizado pelos Aventureiros do Asfalto, que é o moto clube pioneiro aqui em Paracatu em termos de encontros. Portanto, temos sim o apoio do poder público municipal. Talvez não temos 100% de apoio, como precisávamos ter, pois os gastos são muito grandes, mas não podemos reclamar porque apesar de todas as dificuldades, dá pra tocar adiante. Enfim, sem a participação deles é absolutamente impossível realizar um evento dessa magnitude.

SANDRO NEIVA – Algo que acho bem legal nos eventos de motos é que os shows são exclusivamente de rock´n´roll, né?

BYATO SALU – Sem dúvida, e o lance das bandas de rock tocarem ao vivo nos encontros de motociclistas sempre existiu, cara, é uma tradição. Mesmo em outras cidades ou estados, seja numa sede de moto clube, numa praça pública ou num barzinho, sempre haverá uma ou mais bandas de rock para tocar. Isso é algo raiz no moto clubismo. E aqui em Paracatu não poderia ser diferente, né cara! Quando eu ingressei nos Aventureiros do Asfalto já havia acontecido três encontros de motociclistas na cidade. Eu fui nos três eventos, não como motociclista, mas como rocker. Ia lá, curtia as bandas e tal e era doido para entrar no moto clube. Mas em relação às bandas de rock participarem dos eventos, além de ser muito bom, ainda fortalece a cena do rock local e regional, abrindo sempre um espaço para que os músicos de nossa própria região possam mostrar seus trabalhos.

SANDRO NEIVA – Todo motociclista é fã de rock ou isso é apenas clichê?

BYATO SALU – Cara, eu acredito que a maior parte dos motociclistas curtem rock. É claro que em casa, cada um vai escutar o som que quiser, né, mas durante os encontros eu te garanto que só vai rolar rock´n´roll. Sempre! (risos)

SANDRO NEIVA – Fale um pouco sobre o histórico dos encontros de motociclistas em nossa cidade.

BYATO SALU – Nesse ano de 2024 teremos em Paracatu o 14º Encontro de Motociclistas. Na verdade, já havia acontecido três encontros na cidade, mas a cada ano foi diminuindo o número de participantes, o pessoal dos Aventureiros estava meio desanimado nesse período e a coisa deu uma parada. Em 2010 eu fui batizado e no ano seguinte retomamos o evento. Convidamos a galera de Brasília, Goiás e todo o Noroeste de Minas. Daí a coisa começou a pegar novamente. Foi então que em 2012, com o apoio de uma turma nova, eu resolvi fazer a proposta para que fizéssemos um encontro nacional em Paracatu. Todos nós já havíamos participado de encontros em outras cidades e estados, mas em Paracatu ainda não havia rolado um encontro nacional. Cara, eu me dedico muito ao moto clube, isso eu falo, não para me gabar, é porque eu gosto mesmo, me ofereço para isso.  No começo a galera ficou meio ressabiada, mas todos resolveram encarar a parada e voltamos a fazer os encontros, que passaram a ser de caráter nacional.  Aí, meu amigo a coisa começou a explodir, veio a galera do Noroeste de Minas em peso, de Uberlândia, Patos de Minas, Belo Horizonte, Três Marias, Pirapora e principalmente do Distrito Federal.

SANDRO NEIVA – Os primeiros encontros aconteceram no centro da cidade. Qual o motivo da mudança para o Santana? Eu sou um cara nascido e criado naquele bairro e penso que, de forma geral, os encontros trazem um saldo positivo para os moradores, apesar da impressão de que a infraestrutura do próprio lugar parece dar sinais de estar perdendo o fôlego e quase já não suporta a magnitude que o evento passou a alcançar. 

BYATO SALU – A ideia de realizar os encontros no Santana foi para vender uma imagem positiva de Paracatu. Como nossa cidade teve início no Santana, a ideia foi essa, de elevar o nome do município. Inclusive essa ideia foi do Ernane, membro de nosso moto clube, hoje ele é vice-presidente. Os encontros aconteciam na Avenida Olegário Maciel e a partir de 2017 levamos o evento para o Santana. Funcionou bem demais, funciona bem até hoje, o espaço é maior, ideal para o camping, mais arborizado, é um bairro histórico, a praça foi reformada recentemente, então foi uma ideia ótima. No fim de semana em que acontece o evento a gente consegue colocar por volta de 2.500 até 3.000 pessoas na praça do Santana. Teve a época da pandemia, em que tudo estava parado, mas em 2022 voltamos com força total e no ano passado foi excelente. Mas essa sua impressão, Sandro, de que o evento ficou maior do que a estrutura do lugar oferece, é uma realidade. Você tem razão. O grande problema hoje é o espaço físico que já se tornou pequeno. Eu sempre digo que todo e qualquer tipo de evento a ser realizado, seja em Paracatu ou qualquer outra cidade, sempre haverá problemas. Sempre haverá os prós e os contras. Na verdade, Paracatu não é uma cidade planejada e provavelmente terá um número maior de problemas desse tipo, portanto, não está totalmente preparada para eventos de maior porte. O fato de a cidade não possuir um espaço de excelência, destinado a eventos de grande porte, é muito ruim. Poderia servir e atender a todos, igrejas, entidades sociais e todas as camadas da sociedade. No Santana, nós sabemos que há alguns problemas pontuais. Causa alguns transtornos, sim. Mas os benefícios são muitos maiores do que os transtornos, entende?

SANDRO NEIVA – Em relação às bandas de rock que se apresentam nos encontros de motociclistas, qual o critério de escolha? Noto que há uma preocupação em apoiar e dar espaço para a cena do rock local ou regional, certo?

BYATO SALU – Sandrinho, é o seguinte: nesses eventos já tem aquele tipo de som que os motociclistas gostam, que a galera curte, então há uma certa preferência pelo hard rock anos 70, não tão pesado. Todos sabemos que em nosso estado e em nosso país tem uma infinidade de grupos de rock e há uma gama de bandas dispostas a tocar em nossos eventos, principalmente bandas cover.  Mas mesmo assim procuramos abrir espaço para todos os estilos de rock. Desde 2011 há espaço para as bandas locais, tanto as que fazem um som autoral quanto aquelas que fazem apenas som cover. Você vai lembrar que o Amado Ramone (banda autoral de Paracatu liderada pelo falecido artista Santos Seixas) tocou em nosso evento. Outra banda local, o Flying Gords, que fazia um som cover, foi presença constante em nossos encontros por uns seis anos, se não me engano. E da mesma forma, outras bandas de nossa cidade tiveram espaço garantido nos encontros. Os Aventureiros do Asfalto sempre deram e sempre darão essa oportunidade aos artistas de rock de Paracatu e toda a cena rock de nossa região. Procuramos escolher apenas aquelas bandas que ensaiam regularmente e tudo que a gente pede é compromisso, seriedade, respeito ao público e que toquem com profissionalismo. Esses são os critérios. E também abrimos espaço para bandas cover. Entre 2022 e 2023, por exemplo, apresentamos ao público de Paracatu o ACDC Cover, O Destroyer (cover do Kiss) e o Led Zeppelin Cover, bandas maiores, acostumadas a se apresentar em palcos de todo o Brasil. E tem sido muito bom, cara! Eu posso falar porque eu também participo da cena rock e você sabe, Sandrinho, que o lançamento de seu livro Paracatu Rock City em 2021 fez com que a cena ganhasse uma força absurda! A cena estava um pouco apagada e o movimento voltou com força total. O grupo Noroeste Rock Minas também ajuda bastante, infelizmente nossa cena ainda precisa ser enxergada pelo poder público como um legítimo movimento cultural e dar o apoio devido. Não podemos deixar de relatar nossa expectativa em relação a isso. A ideia de utilizar dois palcos nos encontros – o principal e o alternativo – veio justamente para que as bandas de Paracatu e região possam ter maior visibilidade, alternando os palcos ou tocando diretamente para o público nas diversas tendas de moto clubes.

SANDRO NEIVA – E você, Byato, quando começou a se interessar por rock´n´roll?

BYATO SALU – Meu interesse por rock´n´roll, assim como o interesse por motos, vem lá da adolescência, aos 14 anos e tudo começou na cidade de Minaçu (GO), onde havia uma mineradora e trabalhei por lá. Eu andava sempre com aqueles três amigos que citei anteriormente, Márcio, Kléber e Cláudio, e além da paixão pelas motos, também curtíamos muita música. Primeiro foi aquela onda da break dance. Eu tinha um radiogravador National, daqueles tijolões enormes, muito populares na época. Eu até me propus a arriscar alguns passos como B-Boy, mas rapidinho descobri que não era minha praia e é lógico que a parada não deu certo. Mas vou citar dois fatos marcantes para mim. Nessa época, o pai do Kléber Segati trabalhava com eletrônica e montou uma espécie de rádio pirata por meio de um transmissor. E a gente, então, empilhava cinco ou seis discos de vinil numa vitrola que ia tocando um por um, só de um lado. Por meio do transmissor o som saía nos aparelhos de rádio. Nós sintonizávamos e então íamos até uma quadra próxima para ouvir à vontade. Daí a pouco tínhamos que voltar até a casa do Kléber para virar os discos e a gente voltava a escutar som. Ouvíamos vários álbuns de rock. Começou por aí, cara! Havia um outro amigo, o Décio Message, professor e químico, também trabalhava na mesma empresa que eu, em Minaçu. Sempre pegava uma carona com ele para o trabalho pois ele morava ao lado de minha casa. Uma vez ele me chamou para curtir um som. Rapaz, era um aparelho de alta potência e qualidade, umas caixas amplificadas Polivox gigantes de cor prateada. Ele colocou um álbum do Led Zeppelin pra eu ouvir! Meu irmão, a partir daquele dia eu disse pra mim mesmo que rock era o som que eu queria ouvir. Daí acabou, cara! Estamos aí nessa, até hoje! (Risos)

SANDRO NEIVA – A propósito, Byato, em nome de toda a cena rock de Paracatu e região, agradeço pelo espaço gentilmente reservado nos encontros de motociclistas para a tenda do movimento Noroeste Rock Minas. Ainda falando sobre a cena rock local, você foi um dos organizadores do evento Paracatu Rock City Concert, realizado em julho de 2022. Os rockers podem aguardar algum show para esse ano de 2024, além daqueles já garantidos no encontro de motociclistas, em setembro?

BYATO SALU – Fico feliz por ter sido convidado para ser um dos organizadores do show de lançamento de seu livro Paracatu Rock City. Aquilo tudo deu um upgrade na cena, muita gente que andava sumida apareceu, surgiram muitas bandas, houve uma oportunidade e duram as melhores, sejam bandas cover ou autorais. Mas como já falei, ainda falta apoio à cena rock. Mesmo com todas as dificuldades vamos tentar apoio ao longo do ano. O grupo Noroeste Rock Minas, com sua ajuda na comunicação, Sandrinho, e a presença dos rockers, vamos todos fazer nossa parte para mostrar aos empresários e agentes do poder público o nosso valor cultural. Convido a todos os rockers para embarcar nessa conosco na busca de apoio de todas as maneiras possíveis para a realização de um show de rock com bandas locais e de outras cidades, possivelmente para comemorar o dia do rock, no mês de julho. Nossa cena está viva e não vamos deixá-la morrer.

SANDRO NEIVA – Voltando a falar dos encontros de motociclistas, imagino que deve ser tudo muito cansativo e trabalhoso, já que envolve desde a segurança do público, condições sanitárias básicas, estrutura de palco, iluminação, efeitos visuais… dê mais detalhes sobre a produção desses eventos.

BYATO SALU – O Encontro de Motociclistas de Paracatu tomou outra dimensão. Pra te falar a verdade, desde 2015 nós sentimos a diferença, o quanto cresceu. E a partir daquela tragédia na boate Kiss, no sul do país, em que mais de 200 pessoas morreram carbonizadas, as exigências para se produzir um evento aumentaram muito, – o que não discordo. Mas existem algumas burocracias que não deveriam existir para que as coisas fluíssem melhor e serem mais fáceis de se executar. É lógico que a segurança do público, as condições de higiene básicas devem vir em primeiro lugar, a estrutura de palco e som também são fundamentais, o que envolve muita mão-de-obra e é tudo muito difícil. Sem desmerecer o trabalho de ninguém, mas em minha opinião, as bandas de Paracatu têm sido constantemente prejudicadas quanto à operação de som em comparação às bandas maiores, durante os encontros. É um fator a ser aprimorado, dentre outras coisas. Coisas a resolver sempre existem, para você ter ideia, agora em fevereiro estou concluindo responsabilidades assumidas no evento do ano passado, que aconteceu em setembro. Enfim, não é fácil assumir a produção de um evento dessa proporção, cara. As dificuldades são inúmeras. O evento se tornou de grande magnitude e hoje é uma referência não apenas no Noroeste de Minas Gerais, mas também em Brasília e Entorno do Distrito Federal, Goiás, Uberlândia e várias outras cidades. Não sei se é o melhor, mas te garanto que é um dos maiores. O nosso evento é o terceiro maior Encontro de Motociclistas de toda essa região.  O primeiro lugar, sem dúvida, é o Capital Moto Week, em Brasília, um dos maiores do mundo. Depois vem o de Morrinhos (GO) e em terceiro lugar vem o nosso, em Paracatu. Quanto à população da cidade, de forma geral, não posso afirmar que 100% das pessoas concordam e acham maravilhoso, é uma questão de gosto. Mas uma coisa é certa: os eventos fomentam o turismo e o comércio locais. Bares, lanchonetes, restaurantes, a rede hoteleira, inclusive os motéis, os postos de combustíveis, tudo fica absolutamente lotado. Isso durante os três dias de evento. Mas nas semanas anteriores e pós-evento o comércio local também fica agitado, as fábricas de camiseta, os fornecedores de marmitas, as oficinas, é muito dinheiro circulando, tudo em função do motociclismo, entende?

SANDRO NEIVA – Os motoclubes da cidade realizam ou já realizaram algum tipo de serviço social voluntário?

BYATO SALU – Sim, os Aventureiros do Asfalto, em parceria com outros moto clubes, principalmente o Bielas de Ouro, fazem um trabalho voluntário que dura praticamente durante todo o ano, de doações de cestas básicas para famílias carentes e outras que nos procuram em busca de ajuda. No final do ano esse trabalho se intensifica. O atendimento não é feito todos os meses por falta de uma sede própria, que ainda não temos, mas chegamos a atender 78 famílias.

SANDRO NEIVA – Você acredita que ainda existe muito preconceito contra o pessoal que adora usar camiseta preta ou um visual mais fora dos padrões convencionais?   

BYATO SALU – Vou falar dos dois lados. Dentro do motociclismo a maioria usa colete preto, camiseta preta, curte rock´n´roll, tem um estilo de vida diferente da maioria e havia muitíssimo preconceito e desinformação. Mas os trabalhos sociais e os próprios encontros de motociclistas têm feito com que esse preconceito tenha praticamente acabado porque a maioria dos motociclistas são casados e levam suas esposas e crianças aos eventos, algo bem família, né. Já em relação ao rock´n´roll, acredito que o preconceito seja maior. Não sei se é devido às músicas de protesto ou se é em relação a algumas referências satânicas de algum segmento do underground, o fato é que ainda há preconceito. E muito disso, acredito eu, é devido à falta de espaço para o pessoal mostrar o seu trabalho. Se a falta de apoio for sanada, houver mais inclusão nas políticas públicas de cultura e as bandas tiverem locais adequados aonde se apresentar – além, é claro, do apoio dos empresários e comerciantes locais para que os shows aconteçam –, esse preconceito tende a acabar, assim como aconteceu com os eventos de motos, já socialmente integrados e consolidados.

SANDRO NEIVA – Para finalizar, pode adiantar alguma coisa sobre o encontro desse ano?  

BYATO SALU – Para 2024, já temos a data confirmada. O 14º Encontro Nacional de Motociclistas de Paracatu acontecerá nos dias 20, 21 e 22 de setembro. O Largo do Santana não está confirmado ainda, vai depender de uma nova negociação com a Prefeitura Municipal. Devido aos problemas citados anteriormente, ainda depende de uma conversa direta com os agentes do poder público, com empresários e depende inclusive, de uma reunião entre nós, do moto clube, para que possamos decidir a melhor opção. A diretoria não decide sozinha, tudo passa por uma assembleia para aprovação. Pode ser também que a decisão seja levar o evento para outro local, ainda a ser decidido. Porque no Santana, apesar de maravilhoso, ficou pequeno. As pessoas do bairro são nota dez, muito festeiras e acolhedoras. Mas já há reclamações e nós entendemos perfeitamente. Sabemos que algumas decisões não são fáceis de serem tomadas, mas estamos tentando fazer o melhor possível para as pessoas, para o meio motociclístico e para a cidade de Paracatu. Em relação aos shows de rock, duas atrações já estão confirmadas. A primeira delas é a banda local Trust. E também está confirmadíssima a presença da banda goiana de hard rock Jukebox From Hell. Os outros artistas serão confirmados em breve, inclusive há ainda a possiblidade de contarmos ainda com uma banda maior, de renome nacional, que ainda é surpresa. Mas isso ainda depende de uma negociação com empresários e com a Prefeitura Municipal.

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