Entre o vermelho e o branco: quando a sinalização desrespeita a lei, e a memória de Paracatu

 Entre o vermelho e o branco: quando a sinalização desrespeita a lei, e a memória de Paracatu

Opinar sobre a cidade é, antes de tudo, um ato de responsabilidade coletiva. Cuidar dela é mais do que um dever técnico: é um compromisso com a vida, com a história e com o futuro.

Em Paracatu, cada rua carrega uma memória. Cada praça resguarda fragmentos de uma trajetória que construiu identidade, cultura e pertencimento ao longo dos séculos. Por isso, qualquer intervenção no espaço urbano, por menor que pareça, exige responsabilidade, critério e respeito às normas. E, sobretudo, à alma da cidade.

Nos últimos dias, a pintura de uma faixa de pedestres em vermelho, no Largo da Jaqueira, reacendeu uma discussão que já deveria estar superada. Há cerca de dois anos, este veículo alertou para a irregularidade desse tipo de sinalização. À época, a pintura foi sendo apagada pelo tempo, e a paisagem voltou a dialogar com o seu entorno histórico. Agora, a cor retorna, destoando da legislação e do próprio contexto patrimonial do local.

É preciso dizer com clareza: não se trata de gosto pessoal, nem de uma simples escolha estética. Trata-se de legalidade, segurança e respeito ao patrimônio cultural.

O Código de Trânsito Brasileiro e o Manual Brasileiro de Sinalização Horizontal são inequívocos: a faixa de pedestres deve ser branca. A escolha dessa cor não é aleatória. Ela garante contraste com o asfalto, visibilidade em diferentes condições de luz e reconhecimento imediato por qualquer condutor ou pedestre, seja morador ou visitante. A padronização existe para proteger vidas. Quando se rompe esse padrão, cria-se dúvida, e a dúvida, no trânsito, pode custar caro.

Além do risco técnico, há também o impacto simbólico. O Largo da Jaqueira não é um espaço qualquer. Ele integra a paisagem histórica da cidade, um cenário que guarda arquitetura, memória e significado. Inserir ali uma cor que não dialoga com o conjunto é ferir a leitura do lugar, é criar uma interferência visual que rompe a harmonia entre passado e presente.

Paracatu não precisa de “inovações” que desrespeitam normas para chamar atenção. Sua força está justamente na autenticidade, na beleza do que permanece, no valor do que foi preservado. Modernizar a cidade não é colorir o que não necessita de destaque, mas planejar, cuidar, respeitar e obedecer ao que garante ordem e segurança.

Faixa de pedestres não é obra artística nem peça de marketing urbano. É um instrumento de proteção à vida. Deve ser discreta, eficiente, silenciosa, e, acima de tudo, correta.

Este editorial não é um ataque. É um chamado. Um convite à revisão, ao diálogo e à responsabilidade pública. Que o poder público reavalie essa intervenção, respeite a legislação vigente e compreenda que, em cidades históricas, cada traço no asfalto também escreve, ou apaga, parte da nossa história.

Entre o vermelho e o branco, que Paracatu escolha sempre o caminho da legalidade, da segurança e do respeito à própria memória.

Porque uma cidade que assume sua responsabilidade coletiva preserva seus símbolos, e, acima de tudo, protege seu povo.

 

A Editora

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