Editorial | Se a sombra morre, quem abrigará o futuro?

 Editorial | Se a sombra morre, quem abrigará o futuro?

Entre a motosserra e o silêncio, Paracatu perde pedaços de vida todos os dias.

“Árvores são poemas que a Terra escreve para o céu.” – Rubem Alves

 

Quando uma árvore cai, não é apenas madeira que tomba. É vida que se extingue, é sombra que se desfaz, é o pouso dos pássaros que desaparece, é o canto da cidade que se cala. É também o trabalho invisível das abelhas, guardiãs da existência, que se interrompe. No lugar do frescor, o ar torna-se mais denso, a paisagem mais árida, o futuro mais frágil.

“O sublime é encontrado apenas nos grandes temas. A poesia, a história e a filosofia voltam-se todas para o mesmo objeto, um objeto grandioso: o Homem e a Natureza.” Georges-Louis Leclerc

Paracatu, às vésperas de celebrar seus 237 anos, convive com a rotina de motosserras que operam sem piedade. Árvores são abatidas como se fossem obstáculos e não aliadas. Assassinadas à luz do dia, mas em silêncio público. A motosserra ecoa, mas as autoridades parecem não ouvir. Até quando?

Fotos em frente a Praça do Colegio Antônio Carlos

“Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses.” – Rubem Alves

 Dados que reforçam a urgência da preservação

Pesquisas científicas confirmam o papel vital das árvores no equilíbrio das cidades. Estudos mostram que áreas verdes podem reduzir o calor urbano em até 5 °C, segundo a USP; em cidades europeias, a diferença chega a 12 °C. No Brasil, a arborização pode aumentar a umidade relativa do ar em até 22 % e reduzir a temperatura em até 16,4 °C. Um hectare de árvores urbanas pode baixar a temperatura em até 3 °C combinando sombra e transpiração. Nos Estados Unidos, florestas urbanas evitam 1.200 mortes por ano, especialmente em ondas de calor.

“Deus mora onde o homem deixa a natureza ser o que é.” – Rubem Alves

Um grito editorial por Paracatu

O crime não está na “madeira de lei”, está no espaço vazio que deixamos quando permitimos que cada árvore caia. Árvores não são obstáculos, são alívio, protetoras do clima, refúgio da fauna, pulmões da cidade. Quando cada uma delas é atingida, o futuro perde um fio de esperança.

Este jornal exige:

  • Que a legislação seja revista para proteger todas as árvores, não apenas as de “madeira de lei”;
  • Que a cidade invista em arborização planejada, com espécies adequadas ao clima e à realidade urbana de Paracatu;
  • Que ações concretas sejam tomadas para frear este descarte diário de vida.

Se Paracatu é feita de história, memória e vida, que seja também feita de árvores. Proteger cada uma delas é proteger a própria existência.

Praça da Rua Manoel Manoel Caetano

Comentários

O Lábaro

Posts Relacionados