Editorial – Paracatu sob fumaça: quando o ar pede socorro

A cidade pede respostas diante da devastação causada pelas queimadas
Amanheceu cinzento. O céu que deveria anunciar a primavera trouxe, em setembro, a lembrança amarga do fogo que começou ainda em agosto e insiste em queimar não apenas a mata, mas também a respiração da cidade. Uma névoa espessa cobre Paracatu e transforma a paisagem em retrato de tristeza: é a fumaça das queimadas, herança da irresponsabilidade humana que agrava a seca, alimenta mais fogo e nos prende em um ciclo vicioso de destruição.
A cada sopro de ar contaminado, não é só o pulmão que sofre: é a memória da terra que arde, é o futuro que se desfaz em cinzas. As queimadas roubam a saúde e a esperança. Gases tóxicos e partículas inflamam os pulmões, pioram crises de asma, aumentam riscos de infarto e derrame. Até a mente sente, ansiedade, cansaço e tristeza se somam ao calor que não passa.
O impacto é mais profundo que o olhar alcança. A fumaça altera o ciclo da água, reduz a umidade, acelera o aquecimento global. O solo, a água, os ecossistemas: tudo se contamina. A biodiversidade perde força diante da arrogância do fogo, que insiste em avançar sem pedir licença.
Mas não estamos de mãos atadas. Quem sente sintomas como falta de ar, tontura ou dores de cabeça deve procurar atendimento médico e proteger as vias respiratórias. E há um chamado maior: pressionar as autoridades competentes. É urgente exigir investigação, punição exemplar para os crimes ambientais e, sobretudo, políticas eficazes de prevenção. Não se combate fogo apenas com baldes d’água, mas com consciência coletiva e vontade política.
A cada cidadão, cabe também o cuidado: não usar fogo em terrenos, não soltar fogos, não acender fogueiras. A natureza já grita, e cada gesto importa.
Paracatu amanheceu coberta de fumaça. Mas que não anoiteça encoberta de silêncio. A cidade pede socorro, e junto dela, a vida.
Referências
- Ministério da Saúde. Efeitos da poluição atmosférica na saúde humana. Brasília, 2023.
- Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Monitoramento de queimadas e qualidade do ar. Relatório, 2024.
- Organização Mundial da Saúde (OMS). Air Pollution and Health. Geneva, 2023.
- Observatório Nacional de Clima e Saúde, Fiocruz. Impactos das queimadas no Brasil. Rio de Janeiro, 2022.
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