As influências da cultura africana na gastronomia de Minas Gerais

 As influências da cultura africana na gastronomia de Minas Gerais

 

Conteúdo assinado pelo presidente Marcelo de Souza e Silva reforça que a cultura africana conseguiu resistir, se reinventar e se entrelaçar com as tradições mineiras

Por MARCELO DE SOUZA E SILVA (*)

A Abolição da Escravidão no Brasil é um marco histórico na luta pelos direitos humanos e liberdade e completa 137 anos neste dia 13 de maio. A lei concedeu liberdade total as pessoas escravizadas que ainda existiam no país (cerca de 700 mil) e nos leva à reflexão de que não foi o fim das desigualdades para os negros recém-libertados. Apesar de ter conquistado a liberdade formal, muitos enfrentaram enormes desafios de inserção social e econômica, sendo empurrados para uma vida de extrema pobreza e exclusão.

No entanto, mesmo diante de tantas adversidades, a cultura africana conseguiu resistir, se reinventar e se entrelaçar com as tradições locais, sendo um dos maiores legados da população negra para a formação da identidade brasileira e, consequentemente, mineira. Entre os aspectos culturais que os africanos trouxeram para o Brasil e que se consolidaram com o tempo, destaca-se a culinária, que desempenhou um papel essencial na construção da nossa própria gastronomia. Tais aspectos fundamentais que marcaram a cultura negra estão sendo evidenciados no evento Prepara Gastronomia: Inovação e Negócios, nos dias 12 e 13 de maio, no Sebrae Minas. A presença da pesquisadora Patrícia Durães, especialista culturas alimentares e na análise da influência das heranças afrodiaspóricas na comida brasileira, é um nome de destaque que valoriza as influências da gastronomia africana em nosso estado e ajudam a manter viva essa identidade nacional.

Durante o período da escravidão, as condições sub-humanas em que as pessoas negras eram aprisionadas fez com que o preparo dos alimentos fosse improvisado. As pessoas escravizadas foram responsáveis por inserir diversos ingredientes e modos de preparo na culinária mineira. A gastronomia brasileira, como um todo, já é resultado da fusão de elementos das culinárias portuguesa, indígena e africana.

Os preparos com caldo, por exemplo, são muito comuns na África. Além do nosso famoso angu, a própria introdução do quiabo (que está no típico frango com quiabo mineiro) nos pratos brasileiros deve-se ao comércio de pessoas escravizadas, já que o fruto tem origem africana e é amplamente utilizado em terras africanas. Fígado com jiló, tutu, leitão à pururuca, vaca atolada e feijão tropeiro são alguns dos pratos típicos da culinária mineira, muito famosa não só no Brasil, mas mundialmente conhecidos. Igualmente, muitos ingredientes e especiarias que vieram para nosso estado foram trazidos no período colonial por comerciantes, traficantes de pessoas negras, portugueses e ainda algumas pessoas escravizadas que vinham acompanhando os seus senhores.

O período da descoberta do ouro e do diamante em Minas Gerais, a partir do século 16, pode ser considerado o marco para a influência dos africanos na gastronomia mineira. As áreas de mineração se tornaram o mais importante centro econômico do reino português, o que fez com que as atividades produtivas de outras regiões brasileiras se integrassem em um comércio que trazia comida, roupas, ferramentas e artigos de luxo para Minas Gerais.

O reconhecimento da influência da cultura africana é crucial para combater a segregação e as discriminações sociais que existem desde o século 19. Entender e valorizar as distintas culturas, origens e histórias de grupos marginalizados ajuda a desestigmatizar estereótipos e preconceitos que abalaram as várias gerações descendentes dos africanos.

Marcelo de Souza e Silva é presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas e da CDL-BH

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