Ponte Joaquim José dos Reis: quando uma comunidade reencontra seu caminho

 Ponte Joaquim José dos Reis: quando uma comunidade reencontra seu caminho

Entre memória, afeto e mobilidade, Paracatu inaugura uma estrutura que liga bairros, e também histórias

Na tarde de ontem (18), Paracatu viveu um momento que ultrapassa o concreto e o aço. A inauguração da nova ponte sobre o Córrego dos Meninos, agora oficialmente nomeada Joaquim José dos Reis, trouxe mais do que um equipamento urbano: trouxe de volta um elo interrompido, uma travessia necessária, uma homenagem merecida.

A cerimônia reuniu o prefeito Igor Santos; o vice-prefeito Pedro Adjuto; o presidente da Câmara Municipal, Manoel Alves; a vereadora Nilda da Associação; a vereadora Professora Eliete; o secretário de Governo, Altanir Júnior; o secretário de Transportes, Gabriel Claudino; o representante da Associação do Bairro Alto do Açude, Paulinho Ferreira; e, representando os familiares do homenageado, Solano Teixeira. Ali, diante do fluxo silencioso do córrego, autoridades e moradores celebraram juntos uma conquista coletiva.

Por muitos anos, a velha galeria que ligava os bairros JK e Alto do Açude resistiu como pôde. Enfraquecida, comprometida, acabou interditada pela Defesa Civil no ano passado, levando consigo um pedaço da rotina de centenas de pessoas. Atravessar tornou-se mais difícil; chegar tornou-se mais demorado; viver, mais arriscado. Mas ontem, finalmente, a travessia voltou a ser possível, e mais segura do que nunca.

Construída pela Prefeitura, por meio da Secretaria de Transportes, a nova ponte representa compromisso público e responsabilidade com a vida cotidiana da população. Resultado de uma demanda apresentada pelos vereadores Nilda da Associação, Professora Eliete, Geisiel e Manoel Alves, a obra recebeu investimento superior a um milhão de reais, com recursos e mão de obra do próprio município. O que antes era fragilidade transformou-se em estrutura robusta: vigas metálicas, concreto armado, corrimão de aço e um vão ampliado de 15 para 18 metros. Todo o entorno foi revitalizado com pavimentação e sinalização, garantindo um trânsito mais fluido e seguro para motoristas e pedestres.

A ponte se integra ao conjunto de obras de mobilidade em andamento no município, costurando as partes da cidade e fortalecendo uma urbanidade que não deixa ninguém para trás. Mas esta travessia tem algo a mais: carrega um nome que ecoa respeito, lembrança e gratidão.

Um homenageado que, em vida, também foi ponte

Dar a esta obra o nome de Joaquim José dos Reis é reconhecer que algumas pessoas atravessam a vida dos outros como verdadeiras estruturas de sustentação. Nascido em 18 de setembro de 1928, em Paracatu, seu Joaquim cresceu entre o trabalho duro e a inteligência rara. Do garimpo à roça, da madeira às leituras que o faziam viajar sem sair de casa, ele construiu seu caminho com simplicidade e profundidade.

Casado com Delcia Teixeira dos Reis, pai de cinco filhos, Wulgton, Warmam, Washigton, Wilgton e Welson, dominava com naturalidade o ofício da serraria e a precisão da matemática, sem perder o amor pelas palavras. Desmentia, todos os dias, a lenda de que números e letras não convivem sob o mesmo teto. Na casa do senhor Joaquim, conviviam, e conviviam muito bem.

Morador do Alto do Açude por mais de quatro décadas, tornou-se referência para toda a vizinhança. Procurado para resolver conflitos, ajudar amigos, orientar desconhecidos, era homem de pulso firme e coração aberto, daqueles cuja presença molda uma comunidade inteira. Prático, direto, generoso e cheio de histórias, transformava cada encontro em aprendizado.

Partiu em 30 de outubro de 2022, aos 94 anos, vencido pelo cansaço de um corpo que já não acompanhava a lucidez de sua mente afiada. Mas deixou, para quem viveu ao seu redor, uma certeza simples e profunda: mente em movimento não envelhece.

Uma ponte que leva seu nome, e seu legado

 A ponte Joaquim José dos Reis não é apenas obra de engenharia. É gesto simbólico. Ao ligar dois bairros, ela também costura passado e presente, memória e futuro. Para a comunidade, representa dignidade, segurança, mobilidade e pertencimento. Para a família, representa reconhecimento. Para Paracatu, representa gratidão.

Porque algumas pessoas não passam pela vida: atravessam-na.
E seu Joaquim, de tantas travessias, agora dá nome a mais uma.

 

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O Lábaro

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