Documentário resgata a história do “Saca Rolha”, primeiro clube social fundado por negros em Paracatu (MG)
Gravações acontecem entre os dias 24 e 29 de novembro, em Paracatu; produção do documentário está em busca de personagens que viveram o Saca Rolha
A história do primeiro clube social fundado por negros em Paracatu (MG) será transformada em um documentário. O filme vai resgatar a memória da Sociedade Operária Paracatuense (SOP), mais conhecida como Clube Saca Rolha, espaço de encontro, cultura e música fundado nos anos 1950 pelo sanfoneiro Luís Gouveia Damasceno, mais conhecido como “Luís de Darilo”, músico autodidata e figura central na vida cultural da cidade.
Fruto da amizade de um grupo de amigos para criar em Paracatu um espaço de convivência de toda a sociedade, o Saca Rolha surgiu em uma época na qual os clubes da elite branca não permitiam a presença e barravam a entrada de pessoas negras. A partir da vontade de Darilo, junto a outros personagens importantes como José Gouveia Damasceno (Zé pipoqueiro), Jacinta Pereira da Silva, Georgina Doceira e José Alves Meireles (Zé de Leno), nasceu a Sociedade Operária Paracatuense, primeiro clube fundado por negros no estado.
Criado como um gesto de resistência e integração social, o Saca Rolha fez história durante os seus oito anos de funcionamento na Praça do Santana (1950-58). Por quase uma década, o local foi referência de lazer para a população negra e, consequentemente, reduto da música, da cultura e da celebração e convivência racial ao atrair frequentadores de todas as idades e classes em plena década de 1950.
Nos bailes de sábado, Luis e sua banda animavam a comunidade com forrós, marchinhas e serestas, reunindo moradores de diferentes bairros e origens. Sanfoneiro que tocou para Juscelino Kubitschek e com Luiz Gonzaga, Luis pedia que os negros se vestissem bem para os bailes no Saca Rolha, como forma de aumentar a autoestima deles.
A filha de Luís, Amélia Gouveia Damasceno, hoje com 86 anos, lembra-se da animação das festas e da presença constante de pessoas vindas de toda a região. “No SOP não tinha preto nem branco, todos eram iguais”, conta Amélia, que será uma das personagens do filme a resgatar um pouco da história do clube.
IMPORTÂNCIA SIMBÓLICA, SOCIAL E CULTURAL
Mesmo tendo funcionado por pouco tempo — até a morte de Luís, em 1958 —, o Saca Rolha ainda permanece vivo na memória de algumas pessoas em Paracatu, porém os mais jovens quase desconhecem a história de sua criação e de seus frequentadores.
O documentário vai reconstruir esse legado a partir de depoimentos de familiares, antigos frequentadores e moradores do bairro Santana, além de imagens de arquivo e registros do antigo salão do clube. Um dos objetivos do filme é, por meio de uma pesquisa histórica e também de depoimento de estudiosos sobre o racismo no Brasil, recuperar a importância simbólica, social e cultural da SOP.
O filme documentário faz parte do projeto “Sociedade Operária Paracatuense: um resgate à sua história”, do Observatório de Comunicação (Lei.A), com o apoio do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e viabilizado com recursos de medidas compensatórias, via Plataforma Semente.
GRAVAÇÕES E BUSCA POR ARQUIVOS
As gravações do documentário estão previstas para serem realizadas entre os dias 24 a 29 de novembro de 2025, com locações no centro histórico de Paracatu e no bairro Santana, onde funcionava a antiga sede do SOP.
Além de familiares de “Luís de Darilo” e moradores do bairro Santana, músicos importantes de Paracatu irão participar das gravações.
Por meio do instagram do Observatório Lei.A (@leiaobservatorio), a produção do filme tem buscado outros personagens e, principalmente, fotos e filmagens da época. Como era um clube mais popular, poucas pessoas que frequentavam tinham equipamentos fotográficos, o que tem sido um desafio para a pesquisa audiovisual.
Caso algum morador de Paracatu tenha fotos da época, entrar em contato pelo telefone 31 9 9967.9805 (Juliana).
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RESUMO – O documentário Saca Rolha resgata a história da Sociedade Operária Paracatuense (SOP), clube fundado nos anos 1950 por Luís de Darilo como opção para a população negra em Paracatu (MG). Criado em um tempo de segregação, o clube se tornou um espaço de convivência e celebração, onde a música e o encontro afirmavam igualdade, integração e pertencimento. O filme revisita essa memória por meio de depoimentos, imagens e lembranças de uma cidade que aprendeu a dançar entre fronteiras. |
SERVIÇO
Documentário: Saca Rolha — Memórias de um Clube Negro em Paracatu
Realização: Observatório de Comunicação (Lei.A)
Locações: Paracatu (MG)
Previsão de gravação: novembro de 2025





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