3.º Fliparacatu coloca a literatura na encruzilhada

 3.º Fliparacatu coloca a literatura na encruzilhada

De 27 a 31 de agosto, Paracatu se transforma novamente em território da palavra com a terceira edição do Fliparacatu – Festival Literário Internacional, realizado com patrocínio da Kinross, via Lei Rouanet, do Ministério da Cultura. O tema-conceito deste ano propõe uma reflexão necessária: “Literatura, Encruzilhada e a Desumanização”.

Os autores homenageados desta edição são a brasileira Ana Maria Gonçalves, mineira de Ibiá, imortal da ABL e autora da aclamada ficção “Um Defeito de Cor” e o português Valter Hugo Mãe, que participa do tema com o romance “A Desumanização”, além de contribuir com seus traços para a criação da identidade visual do festival

Toda programação é inteiramente gratuita, com tradução simultânea em Libras e transmitida online pelo canal @fliparacatu do Youtube. O Fliparacatu tem o apoio cultural da Prefeitura de Paracatu, Caixa e Academia de Letras do Noroeste de Minas.

É nesse contexto que o festival reúne mais de 60 autores e autoras de diferentes origens sociais, étnicas e geográficas, reafirmando seu compromisso de equilíbrio com a diversidade, a ética e a transformação. A curadoria é assinada por Bianca Santana, Jeferson Tenório e Sérgio Abranches, tendo Leo Cunha no campo infanto-juvenil e Dani Prado na programação local.

Em um mundo atravessado por crises ambientais, políticas e simbólicas, o 3.º Fliparacatu é um encontro diverso e inclusivo, permeado por convidados que instigam o pensamento relativo aos rumos da humanidade por meio da escuta, da leitura e do debate. “A humanidade está na encruzilhada, com os sinais apontando caminhos errados”, afirma Afonso Borges, idealizador do evento e presidente do Fliaraxá, Flitabira e Flipetrópolis. “A encruzilhada nos coloca o caminho da ética como única opção”, conclui.

Para o curador Jeferson Tenório, a escolha do tema parte de uma reflexão profunda sobre os efeitos da colonização, da lógica neoliberal e da aceleração moderna. “A modernidade, assim como o período colonial, acelerou o processo de desumanização de nossos tempos. Como resultado, tivemos, além da violência estrutural, uma tragédia epistemológica, oriunda de uma sociedade mediada pelo capitalismo e por medidas neoliberais”, afirma. A literatura, nesse contexto, se apresenta como um campo de resistência, de criação de vínculos e de exercício da alteridade: “A literatura, nesse sentido, se torna a possibilidade poderosa de ligação entre formas de pensar e modos de viver. A literatura pressupõe alteridade. Une vivências e oferece possibilidades de experiências. A troca de sensibilidades é o lugar da literatura”.

Durante os cinco dias de programação do Festival, os seguintes nomes passarão pelo evento: Adalberto Andrade Mateus, Afonso Borges, Airton Souza, Alessandra Roscoe, Alexandre de Oliveira Gama, Amara Moira, Amélia do Carmo, Ana Cristina Braga Martes, Ana Maria Gonçalves, Andréa del Fuego, Andressa Marques, Bernardo Ajzenberg, Bernardo Mello Franco, Bianca Santana, Calila das Mercês, Carla Madeira, Carolina Rocha, Cibele Tenório, Cida Mendes, Claudia Alexandre, Daniela Prado, Deivison Nkosi, Eliana Alves Cruz, Eliane Marques, Estevão Ribeiro, Eugênio Bucci, Fernanda Bastos, Fernanda Takai, Geni Núñez, Giovana Madalosso, Igor Pires, Jamil Chade, Jeferson Tenório, John Ulhoa, Julia Codo, Juliana Monteiro, Kassius Kennedy, Lara Prado, Lavínia Rocha, Leo Cunha, Lilia Guerra, Lívia Sant’Anna Vaz, Luciany Aparecida, Luiz Maurício Azevedo, Madu Costa, Marcelino Freire, Matheus Leitão, Míriam Leitão, Morgana Kretzmann, Murilo Caldas, Myriam Scotti, Natalia Timerman, Odilon Esteves, Paulo Scott, Renato Noguera, Ricardo Aleixo, Ricardo Prado, Ricardo Ramos Filho, Sérgio Abranches, Sérgio Rodrigues, Silvana Gontijo, Simone Paulino, Taiane Santi Martins, Tino Freitas, Trudruá Dorrico, Valter Hugo Mãe e Zeca Camargo.

A programação do 3.º Fliparacatu inclui mesas de debate, lançamentos de livros, oficinas, exposições, apresentações musicais e uma novidade: o “Fliparacatu da Gente”, uma área original, pensada na economia criativa do município. O espaço contará com com spots voltados para gastronomia, artesanato, tranças e uma enorme diversidade cultural, empreendedores paracatuenses empenhados em mostrar o seu trabalho dentro do Festival. Além disso, o 3.º Fliparacatu terá uma grande livraria – o coração de qualquer evento literário – e o já tradicional Prêmio de Redação e Desenho, que mobiliza estudantes de escolas públicas e privadas da cidade. Nesta edição, o tema do prêmio dialoga diretamente com o eixo curatorial do festival: “A literatura na encruzilhada – o valor do livro e do escritor na vida de um país”.

Lançamento de livros

Acolhendo todas as pessoas que ultrapassam o patamar de leitor e se aventuram no universo da escrita, o Fliparacatu garante que qualquer escritor(a) que tenha publicado algum livro possa divulgar seu trabalho e autografar os exemplares em uma área de autógrafos, juntamente aos escritores e escritoras da programação do evento. A iniciativa é voltada, em especial, aos autores que arcaram com a edição das próprias obras, intituladas “independentes”. Mesmo assim, qualquer escritor ou escritora pode participar – mesmo que tenha sido publicado(a) por editoras convencionais.

O registro é gratuito, mediante a doação de dois exemplares do livro lançado para a equipe organizadora do evento, que os repassará para a biblioteca da cidade, a Biblioteca Municipal René Lepesqueur. As inscrições podem ser feitas no site do 3.º Fliparacatu.

Maratona de Leitura – Seja Breve

Dentro da programação do Festival, está a realização da Maratona de Leitura – Seja Breve, uma atividade formativa voltada para a leitura e reflexão, em parceria com a Editora Seja Breve, de Bernardo Ajzenberg e Cadão Volpato.  O desafio é simples: cada participante terá quatro horas para ler um livro escolhido na hora e, logo depois, escrever uma redação com reflexões sobre a obra. A ação será realizada no dia 28 de agosto, quinta-feira, das 18h às 22h, na Casa Kinross.

Serão apenas 25 vagas. Os dez melhores textos serão premiados com R$300,00 cada. Todos os participantes receberão, como presente, o livro que leram durante a maratona e um certificado oficial. Os laureados serão anunciados no sábado, juntamente à programação do Prêmio de Redação do 3.º Fliparacatu.

“O objetivo é proporcionar uma experiência intensa de concentração e expressão pessoal. A Maratona de Leitura – Seja Breve é um convite à sensibilidade e à celebração da palavra escrita”, destaca Afonso Borges, curador do Fliparacatu.

A maratona acontecerá dentro da programação oficial do festival e conta com apoio da Editora Seja Breve. Trata-se de uma atividade gratuita e aberta a qualquer pessoa interessada, sem restrição de idade. As inscrições são feitas por meio de formulário online (a ser divulgado) e limitadas a 25 participantes – as vagas serão preenchidas por ordem de inscrição.

“Para Abrir Outras Janelas”: palestra cênico-literária, com Odilon Esteves

O ator Odilon Esteves, uma das atrações convidadas do 3.º Fliparacatu, leva a palestra cênico-literária Para Abrir Outras Janelas para integrar a programação do evento. Cada encontro tem duração de uma hora, com duas sessões programadas em dias diferentes, para ampliar o acesso do público. As performances serão realizadas às 15h do dia 28, quinta-feira, e às 10h do dia 29, sexta-feira, na Casa Kinross.

Para Abrir Outras Janelas tem uma dinâmica interativa. A cada palestra, o público vota nas obras e autores que deseja que o Odilon interprete – seja por meio de trechos, leitura dramática ou comentários. Assim, é a plateia quem define o rumo da apresentação. O conteúdo da peça é o mesmo em ambas as sessões, embora a votação possa levar a caminhos diferentes. A base, no entanto, permanece a mesma.

A performance narra o percurso de leitura do palestrante, desde a quinta série, quando a literatura passou a fazer parte de sua vida. A influência familiar, com a presença de livros infantojuvenis, teve importância, mas o contato decisivo ocorreu quando Odilon estava na escola. Em Novo Cruzeiro, cidade mineira onde o ator morava à época, uma professora apresentou a coleção Vagalume. Odilon ficou impressionado com a capacidade das palavras de se transformarem em imagens, criando um verdadeiro filme mental. A leitura abriu novas perspectivas, comparáveis a “mil janelas” – daí surge o nome da peça.

Oficina de escrita, com Zeca Camargo

Partindo do desejo de desenvolver o processo de escrita de autores iniciantes, o jornalista e escritor Zeca Camargo ministrará uma oficina durante o 3.° Fliparacatu. A ser realizada nos dias 29 e 30 de agosto, a atividade é chamada “Como Uma Ideia Vira Livro – Do Inferno ao Paraíso (passando pelo Purgatório)”.

Alinhando-se ao jeito descontraído de Zeca,  o jornalista abordará a criação literária com muito bom humor, como os temas dos encontros sugerem. No primeiro encontro, “O Paraíso das Ideias” (29/08, sexta-feira, das 19h às 21h), a pauta será voltada para as possibilidades da criação. No paraíso das ideias, tudo é possível: memórias, crônicas, poesia, qualquer inspiração. Esse é o universo de qualquer pessoa que quer escrever. Zeca Camargo afirma que, enquanto grande entusiasta dessa fase, poderá provar sua predileção com a leitura de três começos que romance em que está trabalhando. Ao final, será realizado um grande fórum de ideias, com os incentivos debatendo argumentos de histórias que já tiveram – terminando com um gancho para o encontro seguinte: onde essas ideias vão dar.

No segundo encontro, “O Purgatório da Escrita” (30/08, sábado, das 17h às 19h), o escritor iniciará a oficina com exemplos notórios de livros que, a partir de um começo inusitado, levam a histórias fascinantes. De “Moby Dick” à “Paixão segundo GH”, serão discutidos exemplos de inícios impactantes e originais – contemplando, é claro, uma boa lista de romances contemporâneos. Além disso, Zeca dará um retorno dos vários inícios apresentados no módulo anterior e, em grupos, conversará sobre os horizontes de cada autor.

Rodrigo Melo Franco de Andrade, Patrono do 3.° Fliparacatu 

Na tarde do dia 30 de agosto, sábado, Beto Mateus e Bernardo Mello Franco falarão sobre Patrimônio Histórico: o ideal de Rodrigo Melo Franco de Andrade. O debate terá início às 15h, e será realizado na Academia de Letras do Noroeste de Minas, espaço que dialoga com o assunto a ser analisado.

Fundador do Iphan, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rodrigo é  considerado uma das mais importantes personalidades do século XX. Intercalando seu trabalho à literatura, também foi escritor: em 1923, publicou o livro de contos “Velórios”. Indo além, é sobrinho do jornalista, escritor e jurista paracatuense Afonso Arinos – patrono do Fliparacatu desde sua primeira realização.

Exposição “Ocupação”, de Petchó Silveira

A exposição “Ocupação”, do artista paraense Petchó Silveira, com curadoria de Luisa Borges, chega a Paracatu para integrar a terceira edição do Festival Literário Internacional do município, o Fliparacatu. Durante a realização do evento, que em 2025 será realizado entre os dias 27 e 31 de agosto, quem passar pela Casa de Cultura de Paracatu poderá conferir um pouco das realidades das periferias brasileiras a partir da perspectiva de um artista negro da região Norte do país.

“Ocupação” aborda temáticas como racismo, desigualdade social, violência cotidiana e a ausência de representatividade negra e periférica no circuito artístico tradicional. A exposição é majoritariamente composta por pinturas em papelão, cujas dimensões variam entre 11×11 cm e 170×100 cm. Ao utilizar esse material como suporte, Petchó estabelece um paralelo direto com a realidade das pessoas em situação de rua, especialmente pessoas negras, observadas em sua cidade natal, Belém do Pará, e em tantas outras do Brasil.

A curadoria de Luisa Borges marca a estreia da fotógrafa no ramo. Sobre as obras de Petchó, ela afirma: “por meio de suas obras, o artista promove uma tomada de consciência frente a corpos e expressões de pessoas negras, os detalhes de suas personalidades, trajetórias e histórias de vida, assim como suas dores, belezas e cicatrizes psicológicas em contexto com uma sociedade de desigualdade, que é também reproduzida no meio da arte”.

Estreia o “Flicast”, com Gustavo Ziller

Esta edição do Fliparacatu marca a estreia do “Flicast”, um podcast incrível pilotado pelo comunicador e alpinista Gustavo Ziller. De forma descontraída, ele vai conversar com todos os autores do Festival, e acumular conteúdo para gerar um documento sonoro que irá ao ar nos meses seguintes ao Festival.

Gustavo Ziller é explorador, comunicador e atleta de esportes de endurance. Em 2021, tornou-se o 26º brasileiro a escalar o Monte Everest.  Ele criou e apresenta  projetos como o Bucket List Podcast, as séries Viver Pra Valer (Globoplay) e 7CUMES (Canal OFF). Através dessas narrativas, compartilha reflexões sobre propósito, finitude, saúde, aventura e a arte de viver de verdade.

É também fundador e diretor do Instituto Serra do Curral, organização que protege, cuida e conecta pessoas à Trilha da Crista — um dos maiores patrimônios ambientais de Belo Horizonte. Em breve, lançará dois livros pela Editora Autêntica.

Pão e Poesia

Implementado desde a edição de estreia do Fliparacatu, o projeto Pão e Poesia  transforma sacos de pão em suportes literários, com o propósito de incentivar a leitura e fortalecer o comércio dos estabelecimentos participantes. Nesta 3ª edição do festival, os versos que compõem as embalagens, disponíveis em tamanhos de 1kg, 2kg e 5kg, são da autoria dos escritores Adão Ventura, Ricardo Aleixo e Fernando Pessoa. Todos os três poemas escolhidos falam sobre encruzilhadas, em consonância com o tema do festival, “Literatura, Encruzilhada e a Desumanização”.

Em mais um ano, o Fliparacatu se apresenta como um lugar de escuta e posicionamento diante da complexidade do presente. “O festival reafirma seu compromisso com a educação, a diversidade, o pensamento crítico e a transformação social por meio da literatura”, diz Afonso Borges. “É tempo de fazer escolhas.”

Sobre o Fliparacatu

O 3.º Fliparacatu é patrocinado pela Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e tem o apoio da Prefeitura de Paracatu e Academia de Letras do Noroeste de Minas.

Serviço:

3.º Fliparacatu – Festival Literário Internacional de Paracatu
Data: 27 a 31 de agosto de 2025, quarta a domingo
Local: Centro Histórico de Paracatu (MG) – Entrada gratuita
Mais informações @fliparacatu – www.fliparacatu.com.br

Fonte: https://fliparacatu.com.br/3-o-fliparacatu-coloca-a-literatura-na-encruzilhada/

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O Lábaro

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