3.º Fliparacatu chega ao fim deixando marcas de palavra e memória

 3.º Fliparacatu chega ao fim deixando marcas de palavra e memória

Literatura, ética e liberdade foram fios condutores de um encontro que reafirma a força da palavra como patrimônio vivo

O 3.º Fliparacatu despediu-se neste domingo (31), após cinco dias em que a cidade se transformou em palco de encontros, vozes e ideias. A programação final trouxe a leveza e a imaginação do espetáculo voltado ao público infantojuvenil, como se dissesse que o futuro da literatura se escreve nas mãos das novas gerações. O Teatro Afonso Arinos estava lotado e recebeu o espetáculo “Tubarão Martelo e os habitantes do fundo do mar”, com a presença de mais de 600 crianças acompanhadas de seus responsáveis.

No sábado, temas mais densos se impuseram, com mesas e debates que mostraram como a palavra pode ser tanto abrigo quanto chama. A poesia incendiou corações no diálogo entre Fernanda Bastos, Paulo Scott e Roberto Parmeggiani, em “Versos em chamas”. A ética se fez verbo na mesa com Miriam Leitão, Eugênio Bucci e Jeferson Tenório, conduzida por Lívia Sant’Anna Vaz. A liberdade da literatura foi celebrada por Eliana Alves Cruz, Natalia Timerman e Sérgio Abranches, enquanto a memória do patrono Rodrigo Melo Franco de Andrade foi revisitada por Bernardo Mello Franco, Beto Mateus e Clara Alvim.

Na programação de sábado à noite, a cultura urbana também ganhou espaço com duas atividades do cronograma Nacional/Internacional: a competição de poesia falada com o Slam Galeria e a batalha de rimas da BDG – Batalha da Galeria. Realizados em dias distintos, os encontros reforçaram a potencialidade do território da oralidade. O 3.º Fliparacatu mostrou, assim, que a literatura não se restringe somente aos livros, mas pulsa também na coletividade por meio da voz.

Na mesa “Poéticas do Narrar”, Sérgio Rodrigues, Giovana Madalosso e Luiz Maurício Azevedo reafirmaram que contar histórias é também uma forma de compreender o mundo. Em caráter especial, Henilton Menezes, Secretário de Economia Criativa e Fomento Cultural no Ministério da Cultura, trouxe reflexões sobre a Lei Rouanet e a importância de democratizar o acesso às políticas de fomento.

 

O jornalista Zeca Camargo guiou escritores na oficina “Como Uma Ideia Vira Livro – Do Inferno ao Paraíso (passando pelo Purgatório)” e, ao lado de Carla Madeira e Marcelino Freire, mergulhou na “Leitura Interior”.

Mas talvez o momento mais emblemático tenha sido a mesa “Um defeito de desumanização”, quando Ana Maria Gonçalves e Valter Hugo Mãe, escritores homenageados desta edição, dividiram com Sérgio Abranches um encontro de rara intensidade. Foi mais que um diálogo: foi a celebração da literatura como resistência, denúncia e sonho.

O Fliparacatu, que nasceu para inscrever Paracatu no mapa dos grandes festivais literários, encerra sua terceira edição deixando um rastro de memória coletiva. Cada mesa, cada oficina, cada conversa ecoou o que já dizia Guimarães Rosa: “A vida também é para ser lida.”.

A todos que participaram, escritores, leitores, artistas, organizadores, voluntários e público, resta agora o silêncio fértil que sucede os grandes encontros. Silêncio que não é vazio, mas espaço de germinação. Porque quando um festival literário chega ao fim, o que fica não é a ausência, mas a permanência da palavra.

fotos do Fliparacatu

 

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O Lábaro

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