20 de novembro: Paracatu em consciência, arte e ancestralidade

 20 de novembro: Paracatu em consciência, arte e ancestralidade

No Dia da Consciência Negra, o CEU das Artes se transforma em território de memória viva, resistência cultural e compromisso antirracista

Ontem, 20 de novembro, o Brasil silenciou por um instante para escutar a própria história e, em seguida, fez dela um grito de consciência. O Dia da Consciência Negra, oficializado em 2011, carrega em si um chamado que atravessa gerações: refletir, conscientizar e agir contra o racismo e a desigualdade racial, ao mesmo tempo em que exalta a cultura afro-brasileira e reconhece a contribuição fundamental da população negra para a formação do país.

Em todo o território nacional, a data foi marcada por debates, marchas, manifestações e encontros culturais que ecoaram a resistência de um povo que nunca deixou de lutar por dignidade, respeito e espaço. Foram vozes diversas, mas unidas por um mesmo propósito: iluminar pautas históricas e contemporâneas da comunidade negra e reafirmar a urgência da igualdade.

E em Paracatu, essa consciência se traduziu em cores, sons, palavras e gestos. Na tarde de ontem, (20) o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (COMPIR) realizou, no CEU das Artes, o Festival Afro-Arte, reunindo público e artistas em um encontro totalmente dedicado à valorização da cultura negra. A partir das 13h, o espaço foi tomado por grafite, capoeira, maculelê e diversas oficinas artísticas, compondo um cenário de celebração, pertencimento e identidade.

Na área gastronômica, os sabores contaram histórias que o tempo não apaga. Quitandas afro-brasileiras foram compartilhadas com o público, junto às oficinas de Mané Pelado e pão de queijo, um resgate de receitas e memórias que atravessam gerações e reafirmam o vínculo afetivo com a terra e com a ancestralidade.

O cuidado, o conhecimento e a orientação também tiveram lugar. A oficina ancestral de trancistas reafirmou a beleza das raízes. O curso de Odontologia do Uniatenas promoveu orientações sobre escovação, enquanto a OAB Igualdade Racial ofereceu atendimento jurídico. O slam de poesia e o rap deram voz às inquietações contemporâneas, transformando a palavra em instrumento de luta e afirmação. Já o CAT (Centro de Atendimento ao Turista) e a Guiastur trouxeram informações de forma lúdica e cultural, conectando história e identidade local.

Um dos momentos mais simbólicos do festival foi à roda de conversa com mestres da cultura popular. Representantes da capoeira, caretagem, folia de reis, hip hop, teatro e outras expressões compartilharam vivências e saberes que não vivem apenas nos livros, mas na prática, no corpo e na memória coletiva da comunidade. Ali, tradição e presente se encontraram, reafirmando que a cultura negra é força em movimento.

A trilha sonora da tarde ficou por conta das equipes de som automotivo Absolut e Sensantion, que energizaram o público, enquanto uma animada aula de zumba reuniu pessoas de todas as idades em um mesmo ritmo: o da celebração da vida.

O Dia da Consciência Negra não é apenas um marco que relembra a luta de Zumbi dos Palmares, é um espelho que revela aquilo que ainda precisa ser transformado. É um dia de rever o passado, enxergar o presente e assumir, com responsabilidade, a construção de um futuro mais justo. Afinal, mais de 300 anos de escravidão deixaram marcas profundas que ainda ecoam em práticas, estruturas e desigualdades.

E é justamente por isso que a consciência não pode ficar restrita ao calendário. Ela deve caminhar conosco todos os dias. Em cada atitude, em cada palavra, em cada escolha. Porque combater o racismo não é um gesto isolado, é um compromisso contínuo com a humanidade, a dignidade e o direito de todos a existir em plenitude.

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O Lábaro

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